segunda-feira, 29 de junho de 2009

Talento x Vocação

Amigo internauta,

Com frequência os músicos, especialmente os intérpretes, refletem sobre o "talento". Músicos bem-sucedidos atribuem ao talento seu prestígio, músicos mal-sucedidos creem que é a falta de talento que os deixa em tal posição, e estudantes de todos os nível se pergutam vez ou outra se teriam ou não o talento.

Poucos se perguntam sobre a vocação.

Qual seria a diferença entre eles?

Talento é a capacidade natural de executar uma tarefa, ou facilidade de dominá-la em um espaço de tempo menor que a maioria.

Vocação é ter a personalidade e os atributos que uma determinada profissão exige.

São dois conceitos distintos, portanto. Uma pessoa com talento para pilotar um avião pode, por exemplo, ter medo de altura.

É natural que os estudantes, e os profissionais em certos estágios da sua carreira se debruçem tanto sobre o talento. Essas pessoas vivem uma fase da vida em que ainda estão dominando seu ofício, e acham vantajosa a economia de tempo e energia que o talento traz nessa fase.

Porém, uma vez dentro do mercado, é a vocação quem separa as promessas e revelações dos bem-estabelecidos.

Talento e vocação podem ter seu potencial aumentado. Além disso, é possível fazer escolhas que aproveitem melhor o talento e a vocação inata de cada um.

Diversos músicos se dedicam intensamente a melhorar e a usar melhor seu talento. Está na hora de se dedicar também a aprimorar sua vocação. Um bom começo é se informar qual é o perfil e as exigências que determinado trabalho exige.

sábado, 27 de junho de 2009

Sobre o fim da Caverna do Dragão

Amigo internauta,


O desenho "Dungeons & Dragons", transmitido no Brasil como "Caverna do Dragão", fez muito sucesso nos anos 1980 e marcou uma geração.

A animação foi encerrada abruptamente, e surgiram várias teorias sobre o episódio final.

A estória que mais circula é que os garotos na verdade morreram na montanha-russa, estão no inferno, e o Mestre dos Magos e o Vingador seriam o mesmo demônio, em duas formas diferentes.

Ao saber dessa estória, o roteirista da série a desmentiu e decidiu tornar público o roteiro final da terceira temporada. Leia-o em http://www.michaelreaves.com/pdf/requiem_sec.pdf.

Em resumo, o que se passa é o seguinte: o Vingador e o Mestre dos Magos discutem, e eles fazem uma aposta. Se os garotos conseguirem se salvar sem a ajuda do Mestre dos Magos, ganham uma chave que pode os levar pra casa. Em caso contrário, perdem as armas e suas vidas. Eles derrotam uma Hidra (durante a batalha o Mestre dos Magos diz que não os ajudará), e em seguida o Vingador diz que jogando uma chave num abismo os levaria pra casa. Ele também os incita contra os Mestres dos Magos, dizendo que ele sempre os usava para seu interesse, conduzindo-os para uma luta, nunca para o retorno ao lar.

Após uma discussão que separa o grupo, Hank, Bob, Uni e Diana resolvem ficar aonde estão e os demais vão procurar a chave. Após os demais quase morrerem num vulcão, o grupo se reúne e encontram a tal chave dentro de um sarcófago com a imagem do Vingador. Ao serem atacados por uma ameba gigante, Eric usa a chave em uma fechadura e salva seus amigos da morte certa. Isso faz o Vingador se transformar em sua forma real (um cavaleiro) e se revela filho do Mestre dos Magos. Com o vilão libertado, os garotos ganham a opção de voltar para seus lares. O episódio termina sem o espectador saber se eles retornaram ou não para a Terra, deixando aí o espaço para uma continuação.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Confusões da semana

Amigo internauta,

Nessa semana três confusões têm dominado o noticiário: a briga na F-1, a corrupção generalizada no Senado, e as eleições no Irã.

São assuntos que suscitaram vários textos, e fiquei tentado a escrever sobre eles nesse blog, mas a verdade é que não há nada pra escrever em profundidade sobre eles. Não há informação suficiente.

Não é possível que o negócio bilionário da Fórmula 1 se desfaça apenas por uma regra no regulamento que já foi alterada. Não é motivo suficiente pra se jogar tanto pela janela, mesmo pra quem já tem bastante. Querem mudar a "cartolagem"? O próprio esporte?

E a pergunta mais importante: há um lado "certo" e um lado "errado" na estória? Será que o modelo das construtoras é melhor e o Mosley é o carrasco que todos estão supondo?

Lembro que teve um tempo - eu era criança - em que a fórmula 1 era um esporte de pilotos. Agora é uma corrida de carros. Definido qual carro é melhor, o domingo não passa de um carrossel. O único arremedo de emoção é no treino do sábado, na largada, quando há chuva, ou num acidente. A última vez que vi a fórmula 1 ser dominada pelos pilotos foi quando o Michael Schumacher ganhou o campeonato jogando o Damon Hill pra fora da pista, a primeira de uma série de atitudes anti-desportivas que viraram a norma no esporte.

Será que dá pra confiar que sempre vem coisa boa das equipes? Da turma que manda o vencedor por direito ceder a vitória pro companheiro? Que orienta piloto a mentir? Da turma que mais teria interesse que a fórmula 1 permaneça previsível?

Do Mosley também não sei nada. Seus cinco anos na presidência da FIA foram os cinco anos mais chatos de acompanhar o esporte. Algumas mudanças no regulamento deram uma apimentada, é verdade. Mas o que dizer contra centenas de especialistas, jornalistas, e tantos -istas apontando que ele seria o responsável por todo o problema?

No Senado, idem. A falcatrua envolve tantos servidores e senadores de tantos partidos, que não há ninguém que possa subir na tribuna com as mãos limpas. Mesmo o Artur Vigílio, que rompeu com o silêncio retumbante pra exigir algum grau de moralidade deve estar em algum esquema. Só não foi tornado público ainda. Ainda.

O Congresso Nacional é fundamental para a democracia, mas não dá mais. É menos danoso pra sociedade brasileira fechar logo aquele troço. No mínimo, reconvocar novas eleições. Até porque de democrático não há nada ali. Especialmente desde o início do governo Lula, o congresso tomou diversas decisões contrárias ao desejo da população.

E no Irã, alguém tem alguma ideia da plataforma do Moussavi? Alguma vez ele deixou claro que diverge do Ahmadinejad no ponto que mais atemoriza o ocidente, a bomba atômica iraniana? Alguma mudança pode ser esperada dele, já que o chefe de estado continua o mesmo, o aiatolá Khamenei?

E a mídia não parece sequer se fazer essas perguntas. Todos esses temas são tratados como uma daquelas brigas de vizinho que ninguém nem lembra mais como começou, e só interessa saber qual foi o teor do bate-boca mais recente.

O resumo é a decisão do STF em não exigir diploma para jornalista. Um único traço de sanidade num mundo que tem twitteiro por aí que consegue escrever em 140 caracteres algo mais inteligente que meia página de jornal.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Fim do Myspace

Amigo internauta,

O Myspace.com, que têm servido como um ótimo site para conhecer músicos novos, encerrará suas atividades em breve.

É uma pena que uma atividade tão criativa termine. A empresa era lucrativa em alguns países (Brasil incluso).

Apesar da má notícia, tenho certeza que em breve surgirá outro site similar, provavelmente mais completo, ou outro endereço existente inclua vários dos recursos do Myspace.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Estudando música no exterior: Inglaterra

Amigo internauta,

Mais informações sobre um destino de interesse para estudantes de música, a Inglaterra.

Cenário musical

Desde o século XVIII a Inglaterra é um palco importante, embora tenha passado muito tempo sem qualquer compositor de destaque. Re-estruturou toda a cadeia da música há cerca de 50 anos, e aumentou consideravelmente sua produção musical. É um dos locais privilegiados para iniciar uma carreira.

Cenário acadêmico

Mesmo em universidades de menor porte, há um clima de entusiasmo. Naturalmente, há professores mais talentosos que outros, mas tenho a impressão que a maioria está interessada em produzir, progredir, e fazer sempre melhor.

Em vários instrumentos encontram-se no país alguns dos melhores professores do mundo. Desde os anos 50 a Inglaterra têm formado vários dos músicos de maior prestígio, que continuam atuando no país.

Sistema educacional

Embora o equivalente inglês do ensino médio tenha uma estrutura bem diferente, brasileiros com o ensino médio completo vão direto para a universidade, sem precisar fazer cursos extras.

Os cursos superiores de música são oferecidos por conservatórios de música e por universidades. Os cursos em diversas universidades são apenas de musicologia, mas há universidades que oferecem cursos para instrumentistas, compositores, regentes, etc.

A estrutura do ensino superior é muito parecida com o sistema estadosunidense, portanto o diploma é reconhecido no Brasil. Com frequência os cursos são mais intensos e, embora tenha carga horária parecida, duram um ano a menos.

Mesmo as escolas públicas cobram taxas dos alunos. Embora a recente desvalorização da libra esterlina tenha tornado o valor mais acessível, o custo por ano de um curso na Inglaterra é equivalente a um bom carro 0km. Com frequência há preços diferenciados, em que residentes na Inglaterra e da União Européis pagam menos. Some-se a isso todas as despesas de viver no país. O custo de vida inglês é muito alto, e Londres é uma das cinco cidades mais caras do mundo.

Indo ao país

Embora várias universidades e conservatórios ingleses aceitem vídeos como prova de admissão, recomenda-se a qualquer aluno que busca ajuda financeira fazer uma audição. Algumas escolas fazem audições fora do país.

Um bom domínio do inglês é fundamental, e faz parte dos documentos a serem enviados o resultado de algum teste de proficiência, como o TOEFL ou o IELTS.

O que nós chamamos de bolsa de estudos costuma ser desconto (parcial ou total) do preço do curso, e não cobre todas as despesas. Em algumas circunstâncias, é possível que esteja incluída moradia no campus da faculdade. Ainda assim, todo gasto com alimentação, transporte, seguro saúde, material de estudo tem de ser pago pelo estudante.

É possível trabalhar durante o período de estudo, porém é preciso observar certas normas para obter essa permissão. Várias dessas regras são determinadas pela escola.

Para obter mais informações sobre as universidades e possibilidades de bolsa de estudos, recomendo contactar a agência do British Council mais próxima.

Para obter o visto, toda a tramitação tem de ser feita no Brasil, pessoalmente. Recomenda-se iniciar a burocracia com um ano de antecedência. O calendário escolar inglês inicia em agosto / setembro.

Vivendo no país

É comum que as universidades tenham moradia estudantil no campus. Exceto em casos excepcionais, é preciso pagar aluguel para morar nessas casas, e o custo nem sempre é inferior a alugar uma residência comum. No entanto, pode haver vantagens extras com a redução de custos de transporte ou de outros serviços (internet, lavanderia, etc.). Conservatórios de música, em geral, não oferecem moradia estudantil.

Como comentado acima, é possível trabalhar durante o período de estudo, mas é preciso seguir normas, das quais várias delas são determinadas pela instituição de ensino.

Ficando no país permanentemente

Ao final dos estudos, o aluno precisa sair do país. Caso ele tenha um visto de trabalho, então ele pode permanecer. Portanto, estudantes de música que pretendem continuar na Inglaterra devem procurar uma colocação no mercado de trabalho ao longo do curso.

É melhor ficar no Brasil se...

O maior empecilho para brasileiros viverem na Inglaterra é o alto custo de vida. Mesmo com bolsa integral (cada vez mais raras), é preciso gastar muito dinheiro.

sábado, 20 de junho de 2009

Repertório de concerto

Amigo internauta,

Estão cada vez mais frequentes entre músicos profissionais e estudantes em vias de profissionalização discussões sobre o repertório presente nas salas de concerto. Boa parte dessas conversas mostram uma falta de rumo. Considero positivo esse momento de crise, e tenho feito algumas reflexões sobre o assunto que gostaria de compartilhar.

A meu ver, a origem dessa discussão está na mudança do papel que o músico erudito ocupa na sociedade. Durante a segunda metade do século XX, os grandes grupos musicais funcionavam como uma espécie de "museu da música", e tinham como principal objetivo preservar e divulgar grandes obras musicais da humanidade. O frequentador da sala de concerto via na experiência de ouvir uma Sinfonia de Beethoven algo similar a admirar a Mona Lisa de Leonardo da Vinci.

O solista e os pequenos grupos, por sua vez, eram os "profetas da cultura". Tal qual missionários, aproveitavam-se da sua mobilidade para difundir obras dos grandes compositores entre a população em geral, arrebanhando fiéis para a grande catedral da música erudita, a orquestra sinfônica.

Em alguns locais do mundo isso têm mudado. Na Europa, em especial na Alemanha (berço da maior parte dos compositores, orquestras e solistas de destaque), têm se tornado cada vez mais presente a noção de "cultura acessível". Grandes obras continuam em destaque, naturalmente. Porém, um concerto está buscando ser uma experiência mais agradável que densa intelectualmente. As apresentações estão tendo um caráter menor de "alimento para o cérebro" para proporcionar arte com prazer.

Nesse cenário, com frequência composições maravilhosas, quando juntas, acabam se ofuscando. Na visão anterior, da "música-obra", isso não era um problema, pois o público tinha a oportunidade de ouvir grandes composições de uma só vez. Mas, na "música-experiência", é um fiasco oferecer uma noite intolerável, mesmo com músicas fantásticas.

Isso não significa, no entanto, que sumiram das salas de concerto as obras de vanguarda. Pelo contrário, há uma aceitação nunca antes vista desse repertório. A Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky (1882 – 1971) virou trilha sonora de filme da Disney (Fantasia). Pierrot Lunaire, de Arnold Schoenberg (1874 – 1951), está à beira de completar 100 anos de estréia com cada vez mais admiradores. A maior parte dos frequentadores das salas de concerto nasceu depois que a maioria dos compositores modernos faleceu, então já não são mais nenhuma novidade.

Entre os pequenos grupos e os solistas esse problema têm se mostrado ainda mais gravemente. Talvez porque o público de orquestra é de gente já "catequisada", enquanto o de pequenas formações é mais variado. Mas, de alguma forma, parece que todas as fórmulas conhecidas de programa têm mostrado graves falhas.

E aqui está o que vejo de mais belo nessa crise. Com o conceito atual de "música-experiência", o perfil do público e, principalmente, do próprio músico, estão ocupando um papel muito mais determinante no sucesso do evento musical que a fé cega na tradição e na autoridade.

Imagino que proporcionar uma experiência musical positiva seja similar a receber seus amigos em casa. Naturalmente, elas são pessoas com afinidades com você. Para agradar, basta oferecer a eles coisas que você gostaria de receber.

O público de um solista ou um grupo de câmara é predominante de pessoas que compartilham diversas coisas com o(s) músico(s). Basta oferecer, então, o que o intérprete gosta pra elas.

Isso significa, com frequência, jogar no lixo o que diversos dos professores e das autoridades musicais disseram toda a vida. A realidade deles era outra. Há 30 anos atrás as pessoas eram mais radicais no seu gosto musical, e era comum chegar às vias de fato tal qual as torcidas de futebol ainda fazem hoje em dia. O público de música erudita e o de música popular era como água e óleo.

Hoje um fã de jazz planeja com meses de antecedência uma viagem pra ver uma ópera. Um adolescente têm no seu Ipod rock e música erudita em igual quantidade. A mulher que no fim-de-semana sai pra dançar está com o rádio do carro sintonizado numa rádio de música erudita.

E esse não é só o perfil de quem apenas ouve música erudita. Mais que isso, os músicos profissionais de hoje também são assim, inclusive os músicos populares.

Hoje se vê diversas coisas que pareciam impensáveis. Por exemplo, no vídeo abaixo temos a principal orquestra alemã, a Berliner Philarmonik, regida por um dos principais músicos atuais, Daniel Barenboim, tocando no seu próprio teatro, um arranjo de uma canção popularizada por Carmen Miranda, com toda a sonoridade e mis-en-scène de uma orquestra de cinema.



Diversos dos "pode" e "não pode" falados quando surgia esse assunto não têm mais nenhuma razão de ser, portanto.

Acredito, então, que o segredo está em fazer uma apresentação que represente aquilo que você gostaria de ouvir, atrair para a platéia pessoas como você, e tocar da melhor maneira possível.

Parece simples, mas pra alcançar esse objetivo é preciso muita reflexão. Acho muito importante o músico pensar sobre algumas questões, como "por que me tornei músico?", "o que tenho a compartilhar com as pessoas?", "quais foram as apresentações e gravações que mais me emocionaram?", "qual a melhor experiência musical da minha vida?", etc.

Só com uma boa dose de auto-conhecimento é possível tocar o que você realmente gosta, não o que botaram na sua cabeça que você era obrigado a gostar. Tocando o que você gosta, é certo que você oferecerá uma ótima experiência musical na sua próxima apresentação.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Entrevista para o Classical Guitar Blog

Amigo internauta,

Foi publicada em http://www.classicalguitarsblog.com/classical-guitars-interviews/interview-alvaro-henrique uma entrevista minha feita pelo Elliot, criador do Classical Guitars Blog.

O texto está em inglês. Com a ajuda do Google Translate, é possível ler uma tradução literal nesse link.

Aproveito para mandar um abraço pro Elliot, e agradecer pela oportunidade.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Mudança na Lei Rouanet

Amigo internauta,

Segue outro texto inteligente de Gilberto Dimenstein que reflete exatamente minha opinião sobre a Lei Rouanet.

15/06/2009

Caetano precisa de ajuda?

Estive no show de Caetano Veloso em São Paulo e notei que, apesar do alto preço dos ingressos, todos os lugares estavam ocupados --apenas preço do estacionamento era de R$ 25. Daí se vê o absurdo de uma possível concessão de R$ 2 milhões à turnê nacional desse espetáculo, graças à Lei Rouanet.

Não me senti jogando dinheiro fora ao pagar o alto valor dos ingressos. Muito pelo contrário: Caetano é um talento extraordinário. Mas sinto que meu dinheiro está sendo jogado fora quando recurso público acaba patrocinando esse tipo de evento.

Caetano ajuda a sintetizar meu incômodo com a Lei Rouanet, que o governo pretende reformar. A concessão do incentivo fiscal, como muitos outros incentivos públicos, para a cultura muitas vezes reforça a lógica da desigualdade do país. Faria mais sentido se Caetano, assim como as celebridades artísticas, recebesse o dinheiro em troca não apenas de ingressos gratuitos, mas de oficinas culturais ou aulas-espetáculo. Em poucas palavras, a concessão do benefício estaria condicionada a algum projeto pela melhoria da educação pública.

Todos sairiam ganhando com essa troca: os estudantes mais pobres teriam a chance de uma inesquecível aula-espetáculo.

E o artista teria, além do apoio financeiro, o prazer de compartilhar sua experiência com quem dificilmente assistiria ao seu espetáculo.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Até que enfim alguém fala o óbvio

Amigo internauta,

Segundo reportagem da Folha Online ( http://noticias.uol.com.br/bbc/2009/06/15/ult5017u219.jhtm ), em discurso na ONU o Presidente Lula falou que "Não são os imigrantes, os pobres do mundo, os responsáveis pela crise. Os responsáveis pela crise são os mesmos que por muito tempo sabiam como ensinar a administrar os Estados. Sabiam como ter ingerência nos Estados pobres da América Latina e da África."

Até que enfim alguém numa posição de prestígio, numa instituição global, fala o óbvio.

Não que um mero discurso vá acabar imediatamente com a crescente onda de xenofobia na Europa, mas já é algum alento ter alguém falando para o mundo todo o óbvio. Os próprios europeus e estadosunidenses são responsáveis, sozinhos, pelo seu fracasso econômico recente.

domingo, 14 de junho de 2009

Teoria.com

Amigo internauta,

Gostaria de recomendar a visita ao site www.teoria.com. Nele é possível encontrar textos sobre teoria musical, artigos, um local de discussão, mas a parte que mais gosto de visitar no site é a seção de exercícios, com uma ótima seção de treino de percepção musical.

Apesar da página inicial ser em inglês, o site tem uma versão em espanhol.

sábado, 13 de junho de 2009

Wal-Mart, Carrefour e Pão de Açúcar se comprometem a não comprar carne vinda de área desmatada

Amigo internauta,

Uma notícia a ser comemorada. As três maiores redes de supermercado do país, Pão de Açúcar, Carrefour e Wal-Mart, se comprometeram a não comprar carne oriunda de região desmatada na Amazônia.

Iniciativas como essa colaboram a coibir a destruição do meio ambiente. Não bastam leis e fiscais, é preciso fazer com que a devastação do planeta seja um péssimo negócio.

Agradecemos a atitude dessas empresas.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Alvaro, quando você vem tocar aqui?

Amigo internauta,

Felizmente ouço essa pergunta com frequência. É gratificante ver o interesse de pessoas em me ouvir ao vivo.

A resposta costuma ser a mesma: no que depender de mim, o mais rápido possível.

Há músicos que largaram a profissão pois não gostavam da rotina de viagens. Esse não é o meu caso. Uma das coisas que mais me atrai na vida de concertista é exatamente visitar várias cidades e ter contato com pessoas diferentes. Se não fosse concertista, provavelmente procuraria outra profissão que me proporcionasse isso.

O fato é que conseguir concertos não é tão simples quanto as pessoas imaginam. Por exemplo, uma pessoa que me fez essa pergunta recentemente vive numa cidade em que há quase dez anos venho tentando tocar lá, até o momento sem sucesso.

A maior dificuldade é conseguir fazer com que meu trabalho chegue na pessoa certa, no momento certo.

Qualquer ajuda que facilite essa tarefa, seja me passando contatos de teatros, fundações, etc., seja recomendando para produtores culturais o meu trabalho, é extramamente bem-vinda e pode viabilizar uma apresentação.

Houve cidades em que só pude visitar graças à ajuda de admiradores. Por exemplo, em Petrópolis uma pessoa que conheceu meu trabalho pela internet entregou um CD demo (que enviei para essa pessoa) para um funcionário da secretaria de cultura, e graças a esse contato me apresentei lá.

É sempre um prazer compartilhar a música que toco com as pessoas, e estou sempre procurando novas oportunidades de tocar em público. Se você, amigo internauta, puder ajudar de alguma forma, seu auxílio sempre será bem-vindo.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Texto sobre Haydn publicado na Folha de São Paulo do dia 10/06/09

Amigo internauta,

Tomo a liberdade de reproduzir texto de Marcelo Coelho publicado ontem na Folha, que comenta do descaso à obra de Franz Joseph Haydn (Rohrau, Áustria, 31 de março de 1732 — Viena, 31 de maio de 1809.

"MARCELO COELHO

Haydn

Ele foi esmagado, quem sabe, pela ideia de que todo gênio precisa ser incompreendido


POBRE HAYDN! Comemoram-se os 200 anos da morte do grande compositor. Embora sua genialidade não dê margem a dúvidas, ninguém ignora o fato de que seus discos vendem pouco, e que o público de concertos foge dele.

Mozart e Beethoven, mais ou menos seus contemporâneos, garantiram seu lugar na posteridade. Mas Haydn... quem liga para ele?

Mário de Andrade, na sua "Pequena História da Música", deu uma chave para o mistério: sendo certamente um gênio, Haydn tinha também um lado "bocó".

Talvez os seus retratos reforcem a impressão. Ao contrário da cabeleira torturada de Beethoven, ou da placidez seráfica de Mozart, o rosto de Haydn transmite uma imagem comum, objetiva e saudável dentro da peruca branca setecentista.

A personalidade dele, pelo que se sabe, foi a menos neurótica possível. Os que conviveram com Haydn são unânimes em registrar sua afabilidade, seu bom humor, sua modéstia.

Pobre Haydn! Foi esmagado, quem sabe, pela ideia romântica de que todo gênio precisa ser incompreendido e sofredor.

Outro motivo leva Haydn a ser um insucesso de público: ele compôs demais. Beethoven escreveu nove sinfonias, o suficiente para que conheçamos cada uma delas: sua fisionomia, seu caráter e estado de espírito.

O que fazer, entretanto, diante de um músico que fez 104 sinfonias? Não sei quantos quartetos de cordas, junto com uma avalanche de sonatas? Na maioria, o padrão de qualidade é tão alto que as escolhas se tornam difíceis.

Desse modo, ao contrário de Mozart, que tem nas sinfonias 40 e 41 um ponto de referência sólido no repertório de concerto, não existe sinfonia de Haydn, por mais genial que seja, capaz de competir com tais celebridades.

Ouço às vezes um programa disponível na internet (http://sites. radiofrance.fr/francemusique/ em/critiques/) que equivale a uma verdadeira mesa-redonda de futebol. Críticos de música clássica se defrontam, às cegas, com várias versões de uma mesma obra, e são encarregados de decidir qual a melhor. Analisando uma sinfonia de Haydn, chamada "Surpresa", os participantes desse programa chegaram perto de outra possível solução para o problema da injustiça que pesam sobre o compositor até os dias de hoje.

Ainda que não pareça, Haydn costuma ser muito mal tocado. Nunca "parece" mal tocado porque, havendo suficiente afinação na orquestra, seus temas são sempre claros e acessíveis. Uma superfície de simetria e consonância torna sempre satisfatório o que se escuta. Mas é muito fácil perder o interesse pelo que acontece, à medida que a música se desenvolve.

Fica evidente, em várias interpretações de sua obra, o grau de automatismo, de desatenção, de instrumentistas e maestros com respeito ao que ele escreveu. É como se os intérpretes deixassem a música ir adiante, sem prestar contas do equilíbrio, complicadíssimo, que existe entre a variedade e a unidade na música de Haydn.

Para o ouvinte, o problema se repete. Podemos simplesmente nos distrair diante de uma estrutura harmoniosa, que poucas vezes evoca as paixões de Beethoven ou o lirismo, às vezes sombrio, de Mozart. Eis outra sina do compositor: não apenas bem-humorado, Haydn era genuinamente feliz.

Pobre Haydn! Tinha, para resumir, duas qualidades que haverão de afastá-lo sempre do público mais amplo. Felicidade, sem dúvida; e outra, que talvez no fundo seja sua irmã: o gosto quase matemático pela razão. Ainda que sua música goste demais da brincadeira, e mesmo da palhaçada, não há compositor mais intelectual, mais cerebral do que ele.

Uma sonata para piano expõe, secamente, alguns elementos melódicos. Nada do balé mozartiano, das intensidades de Beethoven. Outro tema se sucede. É preciso um bocado de treino para entender, mais tarde, o que Haydn foi capaz de fazer quando a sonata termina, repleta de novas combinações e vidas a partir do magro material de que partiu.

O fato é que não gostamos muito de racionalidade na esfera estética. Claro que, nesse aspecto, tanto Mozart quanto Beethoven não ficam nada a dever a Haydn. Mas é uma burrice (da qual participo na maior parte das vezes) ignorar Haydn, o mestre de ambos, num campo que faz da música algo mais do que um simples deleite sentimental, e sim uma das mais altas expressões do intelecto humano.

coelhofsp@uol.com.br"

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Vídeos históricos no Youtube

Amigo internauta,

Nem só de piadinhas e clipes musicais vive o youtube. No http://www.youtube.com/user/travelfilmarchive é possível ver vários vídeos históricos, de 1900 a 1970, de diversas cidades do mundo. Paris em 1930, o Irã em 1953, Paquistão em 1954 são alguns dos vídeos. Naturalmente, há alguns sobre o Brasil, inclusive um sobre o carnaval carioca em 1955.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Por quê no Brasil há tanta corrupção?

Amigo internauta,

Talvez essa é a pergunta mais formulada no Brasil. A resposta não é simples, e na verdade há uma série de fatores.

A entrevista de Francenildo Costa publicada Folha de São Paulo de ontem (assinantes UOL e Folha podem lê-la em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0806200917.htm) mostra um desses porquês que são pouco conhecidos.

No Brasil, qualquer testemunha de mau uso de verba pública acaba sofrendo uma punição maior que o acusado. Compare aonde o ex-caseiro e o ex-ministro Palocci estão. Esse caso, infelizmente, não é exceção.

É fundamental para combater a impunidade no Brasil a criação de um ambiente favorável para que testemunhas possam colaborar com a justiça. Poucos parecem se preocupar com esse problema, e não conheço qualquer avanço significativo nessa área nos últimos anos.

Foi muito positiva a implantação há cerca de dez anos de disques-denúncia que recolhem informações sobre crimes cujas vítimas são na sua maioria da classe média e alta, e é preciso fazer coisas similares contra os crimes de colarinho branco, cometidos pelos ricos.

Mas vendo o que acontece na mais alta corte de justiça desse país, vê-se que iniciativas que podem colocar ricos na cadeia não são bem-vindas. Outro porquê de tanta corrupção no Brasil.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Formas musicais: Sonata (2)

Amigo internauta,

Continuando nossa conversa sobre formas musicais, vamos falar da sonata clássica. Quando os músicos falam de forma-sonata, eles estão dizendo desse tipo de sonata. Relembro-o que em outros períodos de época a sonata tem características diferentes, como vimos na mensagem anterior, que abordou a sonata barroca.

Charles Rosen, em seu livro Sonata Forms (link para comprá-lo) mostra uma visão mais abrangente da sonata clássica, que não seguiria um só modelo pré-determinado (daí o forms, plural). Além disso, mostra que, ao contrário do que se imaginava, a forma-sonata não diz respeito apenas ao primeiro movimento, mas a todos os movimentos da composição.

Não é do propósito desse blog fazer uma análise minunciosa da forma sonata, mas por à luz do ouvinte alguns conhecimentos que possam facilitar sua compreensão ao ouvir uma obra musical. Para quem quer mergulhar no assunto, recomendo a leitura do livro de Rosen.

A grande qualidade da forma-sonata é sua capacidade de criar obras de longa duração, com ideias contrastantes, com o mínimo de repetição, porém criando toda uma unidade. Enquanto o ABA seria como um conto é para a literatura, ou o rondó como uma canção em que um refrão sempre se repete, a forma-sonata seria um romance ou um poema épico. Mais que isso, Rosen mostrou que a forma-sonata é também a aglutinação das formas já conhecidas até então.

No primeiro movimento de uma sonata clássica encontramos uma das maiores inovações na forma musical que o século XVIII nos proporcionou. Como comentamos em mensagens antigas, a linguagem musical é incapaz de retratar com precisão o real. Coisas como "por favor, me passe o sal" jamais podem ser ditas apenas com notas musicais. Porém, o primeiro movimento de uma sonata começou a esboçar algo similar a personagens e um enredo. Nasce a possibilidade da música contar uma estória. Mais tarde o poema dramático vai realizar essa potencialidade, mas essa é outra forma musical, que comentaremos mais tarde.

O estereótipo do primeiro movimento de uma sonata clássica pode ser representado no seguinte esquema: uma ideia musical (A), modulações, variações da ideia, uma segunda ideia musical contrastante (B), variações, pontes, um trecho em que elementos das duas ideias são combinados e variados (o chamado "desenvolvimento", um trecho em que o compositor mostraria seu "virtuosismo" no domínio da linguagem musical), a reafirmação da primeira ideia, mais pontes e a reafirmação da segunda ideia, porém agora "submissa" à primeira. Eventualmente ele pode contar com uma introdução e um trecho de finalização (coda).

Em resumo, (introdução) AB-desenvolvimento-A'B' (coda).

Vamos ouvir um exemplo no primeiro movimento (Allegro) da Sonata em Dó maior, K. 545 de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791).



A música começa com o tema A. A partir de cerca de 10" iniciam uma série de escalas que levam a composição para outra tonalidade. O tema B é tocado nesse outro tom, em cerca de 27". Aos 38" ouvimos a ponte para encerrar essa seção. Toda essa parte é repetida.

Em cerca de 1'50" é apresentado o desenvolvimento. Esse é o trecho que normalmente mais enebria os ouvidos. Ouça com atenção e você notará que vários elementos mostrados anteriormente aqui são retorcidos, recombinados, reorganizados, para criar algo novo. É como se uma criança acabasse de montar uma casa com Lego e resolvesse fazer outra casa, com as mesmas peças da anterior.

Em 2'15" o tema A é reapresentado, com leves diferenças. Idem para B, em 2'45". O B é o que está mais diferente. Notou isso, amigo internauta? Agora ele não está em outro tom, mas no tom principal da música, essa é a razão.

Os demais movimentos também estão organizados segundo formas musicais pré-determinadas. Como já as abordei em mensagens anteriores, vou apenas apontá-las. O segundo movimento é um A-B-A, o último um rondó.

Quando há quatro movimentos, o terceiro também é um A-B-A um pouco diferente, o Minuetto e Trio. Minuetto é uma dança que se assemelha à valsa. Na sua origem, num Minuetto e trio, na seção A todos os instrumentos tocam e a B é tocada por apenas três, normalmente instrumentos de sopro. Portanto, no trecho tocado por um trio a música soa mais leve e suave. Mesmo ao escrever para um solista, permanece a mesma ideia de um minueto em A-B-A, em que no B a música fica mais suave.

É importante dizer que Ludwig Van Beethoven (1712–1773) foi um dos principais responsáveis por modificar a estrutura da sonata clássica e dar a ela características que vamos ver na sonata romântica. Portanto, diversas de suas sonatas fogem desse estereótipo.

Acho que também pode ser útil para você, amigo internauta, explicar um pouco da nomenclatura das sonatas clássicas. Uma sonata clássica tem três ou quatro trechos, que chamamos de movimentos. É o equivalente a um capitulo de um mesmo livro, ou a um ato de uma peça teatral (há idiomas em que se usa a mesma palavra para esses casos, inclusive).

Cada movimento tem o nome da indicação que o compositor deu para a velocidade e o caráter da música. Essas palavras, assim como vários termos musicais, são de origem italiana. Os mais comuns são allegro (alegre), largo (lento), moderato (moderado), andante (andando), presto (rápido).

A tonalidade em que a obra foi composta normalmente é indicada, pois tende a sugerir o "clima" da composição, bem como sua dificuldade. Cada instrumento têm mais facilidade de tocar em certos tons. Além disso, associa-se a alguns tons estados de espírito correspondentes. Por exemplo, a tonalidade da sonata de Mozart que ouvimos, dó maior, é associada à leveza. E, ao piano, é o tom mais fácil de se tocar.

Com frequência se indica um número de catálogo também. Imagine que você queira comprar a partitura de uma sonata em dó maior de um compositor, e descobre na loja que há cinco sonatas diferentes do mesmo compositor, todas em dó maior. Para resolver esse problema, as editoras de música passaram a indicar um número para cada sonata que eles publicaram, seguida de uma pequena sigla.

A sigla Op. vem do latim opus, que pode ser traduzido como obra. A primeira obra publicada por um compositor é o Op. 1, a segunda o Op. 2, e assim por diante.

Outras siglas indicam um editor que reuniou todas as obras de um compositor e as ordenou. A sigla se refere à inicial dessa pessoa. As obras de Mozart foram numeradas por Köchel, portanto seguem a siga K ou KV (V de Verzeichnis, índice em alemão). As de Haydn, indicadas por H. ou Hob., vem de Hoboken.

Ou seja, quando dizemos algo como Piano Sonata em Dó maior Hob XVI:50, I. Allegro, de Franz Joseph Haydn, estamos dizendo que é o primeiro movimento, Allegro (alegre em português), de uma sonata para piano composta por Haydn, em dó maior (tom da leveza e a mais fácil de tocar no piano), que é a de númeração XVI:50, feita por Hoboken.

Calma, amigo internauta, o catálogo é apenas um detalhe de pouca utilidade (talvez só pra puxar conversa no intervalo de um concerto, mas outros assuntos são mais interessantes). O importante é saber que é um movimento que deve soar alegre, no tom da leveza, fácil de tocar, e escrita por um dos gênios do classicismo. Ou seja, diversão garantida. Confira: http://www.youtube.com/watch?v=4HqLyzxi7yw .

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Uma prova que nem todos são imbecis

Amigo internauta,

Ontem o governador de São Paulo, José Serra, divulgou um projeto de expansão das marginais Tietê, com a iniciativa de liberar mais espaço para o tráfego de carros.

A imprensa em geral transmitiu a notícia como um feito grandioso, digno de um verdadeiro estadista.

Um jornalista, Gilberto Dimenstein, falou o óbvio da sua coluna radiofônica "Mais São Paulo" (Rádio CBN): todo projeto de tráfego em São Paulo voltado para o transporte individual está fadado ao fracasso e só projetos que melhoram o transporte público podem resolver o problema do trânsito caótico na cidade.

Gilberto Dimenstein dá uma prova que nem só de imbecis constituem os jornalistas.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Voo AF 447

Amigo internauta,

Dois colegas estão entre as vítimas do voo AF 447. O maestro Sílvio Barbato foi regente da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, em Brasília, e o assisti dirigindo essa orquestra dezenas de vezes. A última vez que o encontrei foi há cerca de 8 meses, quando ele regeu obras de Villa-Lobos para orquestra de violoncelos no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília.

Juliana Aquino foi minha colega de curso da Universidade de Brasília (UnB), aonde estudamos música. Tive uma namorada que residiu temporariamente na casa dela. Lembro que, à época, Juliana estava arrecadando fundos para gravar seu primeiro CD.

Quando as primeiras notícias do acidente aéreo chegaram, era inevitável lembrar da série de TV Lost. Avião desaparecido, no meio do oceano, sem rastros... Na minha ingenuidade, prefiro pensar que esse tenha sido o destino deles.

Mas minha cabeça não me faz esquecer dos cinco estágios do luto, cujo primeiro deles é justamente a negação.

Meus sentimentos à familia da Juliana, do maestro Barbato e de todos os demais passageiros.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Um vaso no piano

Amigo internauta,

O governador Aécio Neves (PSDB-MG) recentemente deu uma entrevista à Folha Online com cerca de uma hora de duração. Ele fala do seu governo, do cenário político atual e, naturalmente das eleições 2010. Veja a entrevista nesse link.

O que mais me chamou a atenção no vídeo é um vaso ao fundo. Um vaso bonito, com uma planta vistosa, mas sob um piano de cauda, na residência oficial do governador de Minas Gerais.

Piano é um instrumento musical. Um objeto caro, que exige manutenção, e cujo mal-uso pode estragá-lo. Que uso seria pior para um instrumento musical que sustentar vasos de plantas?

Em certo momento da entrevista o governador fala entusiasmado de rodas de violas e sanfonas. Já pensou um vaso em cima de uma viola? Ou de uma sanfona?

Talvez você, amigo internauta, não entenda minha indignação. Afinal, é cena tão cotidiana ver pianos reduzidos a prateleiras, repletos de vasos e fotos. Alguns acham que é sinal de sofisticação. "Profissionais" do ramo recomendam abundatemente o uso decorativo de pianos - com fotos ou plantas, naturalmente, pois só o piano não basta.

É provável que esse seja o símbolo da preocupação cultural que temos hoje. Tal qual o piano, a cultura é apenas um objeto num canto, decorativo, cuja única função é exibir para familiares e amigos a sofisticação e o poder econômico. Um ícone de status.

O problema é que a idiotice humana fala mais alto e destrói, com vasos e fotos, inclusive o status que um piano traria.

Um piano sem foto, sem planta, e utilizado com alguma frequência - bastam 15 minutos por dia -, isso sim é um símbolo de status. Nem precisa ser pra tocar Chopin. Um tema de filme, uma canção da novela, até o "tema da vitória" associado ao Ayrton Senna serve. O piano se vira bem em qualquer repertório. Não há móvel que impressione mais os conhecidos que tocar um simples Minuetto de Bach.

Como seria bom ver os pianos livres dos cacarecos e bugingangas da vovó, das lembranças de viagem, dos elefantinhos e, principalmente, das plantas. E servirem ao único propósito que vieram ao mundo: fazer música!