Amigo internauta,
Foi um prazer ter a oportunidade de mostrar a música de Villa-Lobos na Jamaica e em Moçambique. Como disse o Toninho Carrasqueira em Maputo, "a vida de música tem essas alegrias de conhecer os parentes distantes". Gostaria de compartilhar com vocês um pouco da impressão que tive dos dois países.
A Jamaica que vi é bem diferente do que a gente imagina no Brasil. Praia, não vi nenhuma. A ilha tem uma floresta exuberante que de imediato desemboca num mar maravilhoso, mas com uma faixa de terra tão estreita que mal dá pra deixar os chinelos na areia. Aliás, me foi comentado que os empreendimentos turísticos importam areia a preços tão caros que há quadrilhas especializadas em roubo de areia.
A capital, Kingston, é uma das regiões metropolitanas mais violentas do mundo. Ano passado, foi a que teve o maior número de assassinatos per capita. Parte dessa violência se dá por preconceito. No país o homossexualismo é proibido por lei e gays e lésbicas são vítimas de violência.
A foto ao lado é do Emancipation Park, em Kingston.
Além disso, o uso de drogas é ilegal e reprimido. Quem quiser viajar pra fumar maconha é melhor embarcar num voo pra Amsterdã, pois portar um baseado na Jamaica pode te dar muitos problemas (além dos que a droga já vai te causar).
O povo jamaicano é muito alegre, musical e emotivo. Há um certo cuidado com o contato inicial com estrangeiros, mas se a relação já começa com educação eles são muito amistosos. Diria que é bem semelhante a visitar uma cidade nordestina de médio porte, como Natal.
Culturalmente, eles são muito próximos aos estadosunidenses, mas é difícil dizer quem influenciou quem. A cultura afro dos EUA deve muito à Jamaica, então é natural que na Jamaica exista muitas semelhanças com o dia-a-dia de um afrodescendente estadosunidense.
Apesar de ser uma ilha, a comida local é baseado no frango, em frituras, no arroz-com-feijão similar ao feito em Cuba, bananas e muita pimenta. Frutos do mar são muito caros, e nos restaurantes que frequentei eram oferecidos peixes que encontramos aqui, como salmão, além do camarão.
Mas a grande surpresa é que eles fazem um sorvete maravilhoso. Na Devon House (foto ao lado), uma típica mansão do tempo em que o país era uma colônia britânica, é possível apreciar um sorvete que rivaliza em qualidade com o italiano e o suíço. Fantástico.
Moçambique é um país fascinante, e lamento não ter tido a oportunidade de tirar muitas fotos. Há muitos camelôs nas ruas, e a abordagem deles é muito ostensiva. Um turista pode ser muito facilmente abordado por três, quatro camelôs ao mesmo tempo, com tamanha insistência, que pode estragar qualquer passeio.
Lá se fala o português, com um sotaque próximo ao de Portugal, pronunciando l, m e n sempre como tal (ou seja, Brasil é Brasil ao invés de Brasiu) e uma velocidade igual ao nosso sotaque. O moçambicana é amigável, mas tem aquela timidez inicial que vemos nas cidades do interior. Vencida essa timidez inicial, ele é muito amigável, solícito, honesto e respeitador. Lembra o povo de cidades pequenas de Minas Gerais, São Paulo ou Goiás.
O país veio de uma guerra civil, e está se reconstruindo. Boa parte da cidade de Maputo lembra as favelas brasileiras. Porém, ao contrário dos morros, nesses bairros de baixa renda se vê um quê de urbanismo presente, com ruas demarcadas, vias paralelas e em dimensões adequadas para o trânsito de automóveis, em terreno plano, etc. Falta a infra-estrutura, mas tem-se a impressão que as pessoas estão instaladas em locais que elas podem ficar pro resto da vida, enquanto em diversos morros há o risco constante de desmoronamentos e o trânsito de veículos é impossível.
O talento dos moçambicanos para as artes plásticas é algo impressionante. Em Maputo pude ver murais nas fachadas externas de edifícios públicos, além que alguns afrescos, e a intensidade das pinturas é impressionante. Inclusive no artesanato local, como esculturas de animais e bustos de pessoas, e pinturas em batik, é possível verificar a força deles. Me impressionou essa intensidade e expressividade das obras de arte que pude ver, e voltei pensando que, se o mundo parar para olhar o que eles estão produzindo em artes plásticas, ninguém vai fechar os olhos.
A comida é fantástica. Frutos do mar saborosos, suculentos e grandes. Pude comer lulas e camarões de cerca de 20 cm, preparados com tanto esmero que sem dúvida estão entre os melhores pratos que já provei.
O clima é bem ameno. Lembrou-me bastante Brasília. Durante o dia peguei entre 25 a 30 graus, e à noite essa temperatura esfriava pra 18 a 25. Porém, Maputo está numa zona do Oceano Índico passível de sofrer furacões. Ano passado nenhum furacão passou pela cidade, e a estação dos furacões desse ano ainda está por começar.
Nos dois países brasileiros são queridos e bem-vindos. Acredito que você vai gostar de visitar esses países, amigo internauta, assim como gostei. Na Jamaica eles sabem pouco do Brasil (ainda estão pensando que a gente fala espanhol, entre outros), mas admiram a alegria e a cultura brasileira. Em Moçambique eles têm um contato maior com o Brasil, as televisões locais transmitem novelas brasileiras, gostam dos brasileiros, mas tem um quê de "aguardem só que nós vamos competir de igual com vocês". O que tem um lado bacana.
A propósito, na ida a Moçambique e na volta para o Brasil passei pela África do Sul. Fiquei impressionado com a forma como o país está preparado para a Copa de 2010. O aeroporto de Johannesburgo está muito acima do nível de qualquer aeroporto brasileiro, e os sul-africanos que lidam com turistas se comunicam bem em três, quatro idiomas. A gente vai passar sufoco pra oferecer em 2014 uma copa com o mesmo nível.
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