Amigo internauta,
Diversos blogs têm sido fechados por violação de direitos autorais. Recentemente, blogs dedicados a pequenos nichos também encerraram suas atividades, o que têm causado revolta em certos internautas que viam nesses blogs um veículo para ampliar sua cultura musical, pois se voltavam apenas para estilos ausentes dos grandes veículos de comunicação de massa.
Embora lamento a perda de sites que dão espaço para músicos que estão ausentes da mídia, acho a decisão correta.
Houve um tempo em que a cópia de material protegido era a única forma de ter acesso a informação. Esse tempo acabou. Hoje há conteúdo livre e gratuito em quantidade e qualidade suficientes para qualquer blog que realmente se dedica à divulgação cultural poder cumprir sua finalidade sem recorrer à reprodução ilegal de qualquer material protegido por direitos autorais. O "open source", a licença "creative commons", a ideia de "informação gratuita e acessível" pegou. E todo meio de divulgação cultural pode fazer uso desse material.
Até o presente momento, não conheci um único blog que diz "não ter qualquer ganho com o site e visa apenas a divulgação cultural" que apresentasse um só exemplo de divulgação de material que pode ser acessado livremente. Nem ao menos um link pra um myspace ou youtube da vida. Só a pirataria pura e simples.
Creio, amigo internauta, que blogs dedicados à pirataria devem ser fechados. É uma atividade ilegal e que traz muito mais prejuízos que os benefícios que os "divulgadores culturais" pensam que proporcionam.
Porém, blogs dedicados à divulgação cultural e à disseminação do conhecimento têm um campo infinito a explorar de material livre, gratuito, disponível e que receberá de braços abertos qualquer um disposto à difundí-los.
Agora é a hora de ver quem está realmente interessado em disseminar conhecimento e quem apenas quer ver a pirataria correr solta.
domingo, 31 de maio de 2009
sexta-feira, 29 de maio de 2009
Em busca de um violão que seja clássico (2)
Amigo internauta,
Complemento o tópico anterior de mesmo nome, em que comento que o violão tem características que o torna um instrumento próprio para tocar acompanhamento e música espanhola, e com inadequações para tocar música erudita. Vamos dar exemplos concretos.
Tentemos tocar o tema da 9a Sinfonia de Beethoven ao violão. Parece moleza, e realmente é pra ser a melodia mais fácil que um instrumentista tocará em toda sua vida. Começamos tocando fá#, sol, lá. Surge o primeiro problema. Quando tocamos o lá na terceira corda, há uma mudança de timbre grande o suficiente pra comprometer a unidade da melodia, e soar como se um instrumento diferente tocasse cada nota. Podemos tocar tudo na quarta corda, o que resolve o problema.
Prosseguimos. lá, sol, fá#, mi. Opa, olha outro problema aí. Já que estamos tocando tudo na quarta corda, precisamos saltar pra conseguir tocar o mi. Nesse salto, por mais veloz que seja, sempre se ouve uma pausa grande o suficiente pra comprometer o legato dessa frase. Dá pra tocar o mi na quinta corda, mas surge novamente o problema da mudança de timbre. Embora essa mudança de timbre seja mais sutil que quando mudamos da quarta pra terceira corda, ele vai se mostrar de novo ao tocar o ré. Ou, ao tocar a nota dó, será impossível evitar o salto, com a incômoda pausa junto.
E, claro, outros cuidados sempre se fazem necessários: dedilhar tudo com o mesmo dedo, o mesmo tipo de toque, com o mesmo ângulo, etc.
Se o violão tivesse uma sonoridade uniforme o suficiente para permitir uma mudança de corda soar com o mesmo timbre, sem esforço, esse problema estaria resolvido.
Essa é uma situação das mais simples que um violonista encontra. Em geral as melodias que precisamos tocar são mais amplas, mais rápidas, com mais notas, e normalmente com acompanhamentos simultâneos. Diversas das ferramentas que dispômos para tocar bem o tema do último movimento da 9a Sinfonia não podem ser cogitadas em diversas composições do repertório violonístico.
Por outro lado, veja o Prelúdio 1 de Villa-Lobos, amigo internauta. Essa é provavelmente a melodia mais bem escrita para o violão. Todas as notas têm sustentação adequada, estão digitadas de uma forma que permite uniformidade, é possível utilizar de ferramentas que criam a ilusão da nota ficar mais forte depois do ataque, o legato surge naturalmente, enfim, é a situação perfeita. A melodia está nos baixos, nesse caso.
Já quando temos uma melodia no agudo, como na seção B do Prelúdio 3 de Villa-Lobos, tudo se inverte. As notas não têm a sustentação que precisam, toda mudança de corda compromete a unidade de timbre, todo salto compromete o legato, é muito difícil mudar o som da nota após o ataque, e é preciso muito esforço para passar a impressão que a última nota isolada soa legato com o acorde a seguir.
Com um instrumento que, além de uniformidade na sonoridade, tivesse boa sustentação e projeção aonde a melodia costuma estar, que é nos agudos, esse problema estaria resolvido.
Mas o violonista, mesmo lutando com todos esses problemas, consegue criar uma boa impressão. Vai tocando uma composição, com melodia na região aguda, prepara aquele lindo acorde que termina a música e... a última nota que sobra no acorde não é a melodia, é um baixo que ele já teve de tomar cuidado pra não se sobrepôr à melodia.
Um baixo sempre presente e que é a última nota que sobra ao tocar um acorde é uma dádiva pra um instrumento acompanhador, já que a nota mais grave tem um papel importantíssimo para determinar as tensões e repousos. Dois acordes com as mesmas notas, mas com baixos diferentes, podem soar como dissonância num caso e repouso em outro. Um instrumento acompanhador precisa mostrar isso com muita clareza.
Mas um instrumento que toca melodias tem de ser capaz de pôr a melodia em primeiro plano sempre, em toda e qualquer situação, em qualquer região que ela esteja.
São essas as principais características que gostaria de ouvir num violão. E poucos estão correndo atrás delas.
Complemento o tópico anterior de mesmo nome, em que comento que o violão tem características que o torna um instrumento próprio para tocar acompanhamento e música espanhola, e com inadequações para tocar música erudita. Vamos dar exemplos concretos.
Tentemos tocar o tema da 9a Sinfonia de Beethoven ao violão. Parece moleza, e realmente é pra ser a melodia mais fácil que um instrumentista tocará em toda sua vida. Começamos tocando fá#, sol, lá. Surge o primeiro problema. Quando tocamos o lá na terceira corda, há uma mudança de timbre grande o suficiente pra comprometer a unidade da melodia, e soar como se um instrumento diferente tocasse cada nota. Podemos tocar tudo na quarta corda, o que resolve o problema.
Prosseguimos. lá, sol, fá#, mi. Opa, olha outro problema aí. Já que estamos tocando tudo na quarta corda, precisamos saltar pra conseguir tocar o mi. Nesse salto, por mais veloz que seja, sempre se ouve uma pausa grande o suficiente pra comprometer o legato dessa frase. Dá pra tocar o mi na quinta corda, mas surge novamente o problema da mudança de timbre. Embora essa mudança de timbre seja mais sutil que quando mudamos da quarta pra terceira corda, ele vai se mostrar de novo ao tocar o ré. Ou, ao tocar a nota dó, será impossível evitar o salto, com a incômoda pausa junto.
E, claro, outros cuidados sempre se fazem necessários: dedilhar tudo com o mesmo dedo, o mesmo tipo de toque, com o mesmo ângulo, etc.
Se o violão tivesse uma sonoridade uniforme o suficiente para permitir uma mudança de corda soar com o mesmo timbre, sem esforço, esse problema estaria resolvido.
Essa é uma situação das mais simples que um violonista encontra. Em geral as melodias que precisamos tocar são mais amplas, mais rápidas, com mais notas, e normalmente com acompanhamentos simultâneos. Diversas das ferramentas que dispômos para tocar bem o tema do último movimento da 9a Sinfonia não podem ser cogitadas em diversas composições do repertório violonístico.
Por outro lado, veja o Prelúdio 1 de Villa-Lobos, amigo internauta. Essa é provavelmente a melodia mais bem escrita para o violão. Todas as notas têm sustentação adequada, estão digitadas de uma forma que permite uniformidade, é possível utilizar de ferramentas que criam a ilusão da nota ficar mais forte depois do ataque, o legato surge naturalmente, enfim, é a situação perfeita. A melodia está nos baixos, nesse caso.
Já quando temos uma melodia no agudo, como na seção B do Prelúdio 3 de Villa-Lobos, tudo se inverte. As notas não têm a sustentação que precisam, toda mudança de corda compromete a unidade de timbre, todo salto compromete o legato, é muito difícil mudar o som da nota após o ataque, e é preciso muito esforço para passar a impressão que a última nota isolada soa legato com o acorde a seguir.
Com um instrumento que, além de uniformidade na sonoridade, tivesse boa sustentação e projeção aonde a melodia costuma estar, que é nos agudos, esse problema estaria resolvido.
Mas o violonista, mesmo lutando com todos esses problemas, consegue criar uma boa impressão. Vai tocando uma composição, com melodia na região aguda, prepara aquele lindo acorde que termina a música e... a última nota que sobra no acorde não é a melodia, é um baixo que ele já teve de tomar cuidado pra não se sobrepôr à melodia.
Um baixo sempre presente e que é a última nota que sobra ao tocar um acorde é uma dádiva pra um instrumento acompanhador, já que a nota mais grave tem um papel importantíssimo para determinar as tensões e repousos. Dois acordes com as mesmas notas, mas com baixos diferentes, podem soar como dissonância num caso e repouso em outro. Um instrumento acompanhador precisa mostrar isso com muita clareza.
Mas um instrumento que toca melodias tem de ser capaz de pôr a melodia em primeiro plano sempre, em toda e qualquer situação, em qualquer região que ela esteja.
São essas as principais características que gostaria de ouvir num violão. E poucos estão correndo atrás delas.
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Campanha para reduzir a tarifa de telefonia fixa
Amigo internauta,
A Associação de Consumidores PROTESTE está numa campanha para reduzir as tarifas de telefonia fixa no Brasil. A meta da instituição é reduzir a taxa de mensalidade para R$ 14 e que ligações entre telefones fixos sejam gratuitas, entre outras.
É importante que a associação receba várias assinaturas para conseguir esses objetivos. Você pode se informar sobre a campanha e assinar a petição em http://www.proteste.org.br/map/show/168886/src/477091.htm .
A Associação de Consumidores PROTESTE está numa campanha para reduzir as tarifas de telefonia fixa no Brasil. A meta da instituição é reduzir a taxa de mensalidade para R$ 14 e que ligações entre telefones fixos sejam gratuitas, entre outras.
É importante que a associação receba várias assinaturas para conseguir esses objetivos. Você pode se informar sobre a campanha e assinar a petição em http://www.proteste.org.br/map/show/168886/src/477091.htm .
segunda-feira, 25 de maio de 2009
sábado, 23 de maio de 2009
E a farra das passagens continua...
Amigo internauta,
Recomendo que você dê sua opinião sobre a decisão para o Presidente da Câmara, Michel Temer. O e-mail é dep.micheltemer@camara.gov.br
. A inércia do eleitor é o combústivel para os políticos fazerem o que bem quiserem.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Em busca de um violão que seja clássico
Amigo internauta,
Há cerca de dois anos li na revista Classical Guitar ( http://www.classicalguitarmagazine.com/ ) uma entrevista com Richard Bruné, luthier estadosunidense. Ele comentou que o violão Torres é um instrumento feito para o flamenco que violonistas eruditos passaram a utilizar, não um violão para música erudita.
Quando li isso, achei verossímil, considerei uma hipótese a ser investigada, mas não dei atenção. O instrumento que os violonistas flamencos utilizam têm diversas características que os violões utilizados pelos violonistas clássicos não têm, e vice-versa. Como na mesma entrevista foram publicadas diversas frases polêmicas, não levei a sério.
Quando iniciei meus estudos na Alemanha de imediato me deparei com uma escola de lutheria contemporânea a Torres, com qualidades distintas. No Germanisches Nationalmuseum, aqui em Nurembergue e no Deutsches Museum, em Munique, há em exposição instrumentos musicais, incluso diversos violões e alaúdes. O acervo em Nurembergue é maior, e inclui pelo menos três tipos de violão bem diferentes do modelo Torres, feitos à mesma época.
Um desses, o modelo Stauffer, tive a oportunidade de conhecer em mais profundidade. Além de ter visto em museus violões da época, meu professor possui uma réplica feita pelo luthier alemão Bernard Kresse. Em diversas vezes esse violão esteve presente nas minhas aulas, e pude testá-lo em alguns momentos. Estive presente também numa ocasião em que meu professor tocou um concerto de Mikis Theodorakis com orquestra nesse instrumento. Abaixo segue uma foto de uma réplica de um Stauffer.
Dentre as diferenças visuais desse projeto, chama a atenção para os violonistas uma em especial. O braço é elevado em diagonal, e não toca no tampo. No tróculo há um parafuso interno que, quando girado, eleva ou abaixa a escala em alguns milímetros, de forma a proporcionar uma regulagem rápida para o instrumentista tocar da forma mais confortável possível. A foto ao lado foi tirada no Germanisches Nationalmuseum, e é um instrumento feito no século XIX.
Mas a maior diferença desse projeto está nas características musicais que ele proporciona. Ao ouvir e testar o instrumento, lembrei imediatamente da entrevista do Bruné. E passei a concordar com ele.
A música erudita tem algumas demandas próprias que naturalmente exigem dos instrumentos certas qualidades, que cabem ao construtor atendê-las. As composições usam melodias como principal elemento musical, então os instrumentos têm de tocar bem diversos tipos de melodia. As melodias predominam no registro médio / agudo, e assim por diante.
Num violão Torres é sempre complicado tocar uma melodia. Cada corda se comporta de uma forma totalmente diferente, e para manter uma unidade é preciso manter a melodia sempre na mesma corda, o que é impossível na maior parte dos casos. O instrumento carece de sustentação e um legato perfeito só é atingido a custo de muito esforço. Dependendo do acompanhamento, equilibrá-lo com a melodia é uma arte à parte, pois o instrumento costuma ter baixos potentes, uma prima super brilhante, uma segunda corda doce e uma terceira corda moribunda.
Já as réplicas de Stauffer que pude testar têm ótima projeção e sustentação nos agudos, um equilíbrio incrível entre as três cordas mais agudas, baixos menos fortes e sem muita sustentaçao, e proporcionam mais agilidade nas interpretações. Em suma, é uma sonoridade que lembra os pianofortes feitos na mesma época.
Analisando bem as qualidades do violão Torres, é um instrumento ótimo para tocar acordes, notas repetidas, rasgueados, melodias no grave, e outras qualidades musicais muito adequadas para tocar música flamenca e repertório romântico espanhol, bem como ser usado como acompanhamento rítmico e harmônico. Certamente não foi gratuito ele ter sido utilizado como instrumento de concerto justamente por uma geração de violonistas espanhóis que tinham como principal eixo de repertório composições inspiradas pelo flamenco, bem como por violonistas que o utilizam só como acompanhamento, como ouvimos na Bossa-Nova.
Já o Stauffer é um violão com características mais em acordo com as exigências próprias da música erudita, em que a natureza do instrumento serve melhor ao violonista que busca tocar esse repertório, e várias ideias que o músico têm conseguem ser executadas nesse violão sem que o instrumentista tenha de lutar contra ele.
Parece um dilema já resolvido, então. Um Stauffer seria um violão perfeito para a música clássica. Bem, não é tão simples assim.
No século XX o violão passou a ocupar um papel de importância que nunca tinha ocupado antes. Surgiu todo um repertório para o instrumento que o concertista da atualidade não pode ignorar. E uma parcela considerável desse repertório, inclusive obras sem influência espanhola, apresenta características que soam melhor em violões Torres. Por exemplo, obras com o uso intenso de rasgueados, como a Sequenza XI do Berio ( vídeo aqui ), tenho dúvidas se soariam tão convincentes num Stauffer. A pequena sonoridade e sustentação nos baixos também me deixa em dúvida se uma simples Prelúdio 1 de Villa-Lobos soaria com a grandiosidade necessária.
Uma coisa que me deixa esperançoso é que diversos luthiers da atualidade estão partindo do modelo Torres e fazendo modificações que o aproximam das qualidades do Stauffer. Talvez sem querer, muitos o fizeram sem ter informação alguma sobre esse outro projeto, mas estão aparecendo violões com características de Stauffer.
Pergunto-me o que aconteceria se algum luthier de talento partisse do Stauffer e aprimorasse esse projeto, com o ideal de produzir um "Stauffer para o violonista contemporâneo". Não sei ao certo o que sairia daí, mas parece uma boa ideia. Talvez surgisse daí um violão mais adequado pra tocar musica erudita.
Há cerca de dois anos li na revista Classical Guitar ( http://www.classicalguitarmagazine.com/ ) uma entrevista com Richard Bruné, luthier estadosunidense. Ele comentou que o violão Torres é um instrumento feito para o flamenco que violonistas eruditos passaram a utilizar, não um violão para música erudita.
Quando li isso, achei verossímil, considerei uma hipótese a ser investigada, mas não dei atenção. O instrumento que os violonistas flamencos utilizam têm diversas características que os violões utilizados pelos violonistas clássicos não têm, e vice-versa. Como na mesma entrevista foram publicadas diversas frases polêmicas, não levei a sério.
Quando iniciei meus estudos na Alemanha de imediato me deparei com uma escola de lutheria contemporânea a Torres, com qualidades distintas. No Germanisches Nationalmuseum, aqui em Nurembergue e no Deutsches Museum, em Munique, há em exposição instrumentos musicais, incluso diversos violões e alaúdes. O acervo em Nurembergue é maior, e inclui pelo menos três tipos de violão bem diferentes do modelo Torres, feitos à mesma época.
Um desses, o modelo Stauffer, tive a oportunidade de conhecer em mais profundidade. Além de ter visto em museus violões da época, meu professor possui uma réplica feita pelo luthier alemão Bernard Kresse. Em diversas vezes esse violão esteve presente nas minhas aulas, e pude testá-lo em alguns momentos. Estive presente também numa ocasião em que meu professor tocou um concerto de Mikis Theodorakis com orquestra nesse instrumento. Abaixo segue uma foto de uma réplica de um Stauffer.
Dentre as diferenças visuais desse projeto, chama a atenção para os violonistas uma em especial. O braço é elevado em diagonal, e não toca no tampo. No tróculo há um parafuso interno que, quando girado, eleva ou abaixa a escala em alguns milímetros, de forma a proporcionar uma regulagem rápida para o instrumentista tocar da forma mais confortável possível. A foto ao lado foi tirada no Germanisches Nationalmuseum, e é um instrumento feito no século XIX.
Mas a maior diferença desse projeto está nas características musicais que ele proporciona. Ao ouvir e testar o instrumento, lembrei imediatamente da entrevista do Bruné. E passei a concordar com ele.
A música erudita tem algumas demandas próprias que naturalmente exigem dos instrumentos certas qualidades, que cabem ao construtor atendê-las. As composições usam melodias como principal elemento musical, então os instrumentos têm de tocar bem diversos tipos de melodia. As melodias predominam no registro médio / agudo, e assim por diante.
Num violão Torres é sempre complicado tocar uma melodia. Cada corda se comporta de uma forma totalmente diferente, e para manter uma unidade é preciso manter a melodia sempre na mesma corda, o que é impossível na maior parte dos casos. O instrumento carece de sustentação e um legato perfeito só é atingido a custo de muito esforço. Dependendo do acompanhamento, equilibrá-lo com a melodia é uma arte à parte, pois o instrumento costuma ter baixos potentes, uma prima super brilhante, uma segunda corda doce e uma terceira corda moribunda.
Já as réplicas de Stauffer que pude testar têm ótima projeção e sustentação nos agudos, um equilíbrio incrível entre as três cordas mais agudas, baixos menos fortes e sem muita sustentaçao, e proporcionam mais agilidade nas interpretações. Em suma, é uma sonoridade que lembra os pianofortes feitos na mesma época.
Analisando bem as qualidades do violão Torres, é um instrumento ótimo para tocar acordes, notas repetidas, rasgueados, melodias no grave, e outras qualidades musicais muito adequadas para tocar música flamenca e repertório romântico espanhol, bem como ser usado como acompanhamento rítmico e harmônico. Certamente não foi gratuito ele ter sido utilizado como instrumento de concerto justamente por uma geração de violonistas espanhóis que tinham como principal eixo de repertório composições inspiradas pelo flamenco, bem como por violonistas que o utilizam só como acompanhamento, como ouvimos na Bossa-Nova.
Já o Stauffer é um violão com características mais em acordo com as exigências próprias da música erudita, em que a natureza do instrumento serve melhor ao violonista que busca tocar esse repertório, e várias ideias que o músico têm conseguem ser executadas nesse violão sem que o instrumentista tenha de lutar contra ele.
Parece um dilema já resolvido, então. Um Stauffer seria um violão perfeito para a música clássica. Bem, não é tão simples assim.
No século XX o violão passou a ocupar um papel de importância que nunca tinha ocupado antes. Surgiu todo um repertório para o instrumento que o concertista da atualidade não pode ignorar. E uma parcela considerável desse repertório, inclusive obras sem influência espanhola, apresenta características que soam melhor em violões Torres. Por exemplo, obras com o uso intenso de rasgueados, como a Sequenza XI do Berio ( vídeo aqui ), tenho dúvidas se soariam tão convincentes num Stauffer. A pequena sonoridade e sustentação nos baixos também me deixa em dúvida se uma simples Prelúdio 1 de Villa-Lobos soaria com a grandiosidade necessária.
Uma coisa que me deixa esperançoso é que diversos luthiers da atualidade estão partindo do modelo Torres e fazendo modificações que o aproximam das qualidades do Stauffer. Talvez sem querer, muitos o fizeram sem ter informação alguma sobre esse outro projeto, mas estão aparecendo violões com características de Stauffer.
Pergunto-me o que aconteceria se algum luthier de talento partisse do Stauffer e aprimorasse esse projeto, com o ideal de produzir um "Stauffer para o violonista contemporâneo". Não sei ao certo o que sairia daí, mas parece uma boa ideia. Talvez surgisse daí um violão mais adequado pra tocar musica erudita.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Mais programas da Série Violão, com Fábio Zanon para download gratuito
Amigo internauta,
Foram disponibilizados para download gratuito mais programas da série Violão, com Fábio Zanon, que era transmitida na Rádio Cultura FM de São Paulo.
Os programas mostram gravações de violonistas dos quatro cantos do Brasil, de todos os estilos musicais, sempre com bons textos. Nesse grupo encontra-se também um programa sobre a viola caipira.
O link para download é http://www.vcfz.blogspot.com/
Foram disponibilizados para download gratuito mais programas da série Violão, com Fábio Zanon, que era transmitida na Rádio Cultura FM de São Paulo.
Os programas mostram gravações de violonistas dos quatro cantos do Brasil, de todos os estilos musicais, sempre com bons textos. Nesse grupo encontra-se também um programa sobre a viola caipira.
O link para download é http://www.vcfz.blogspot.com/
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Sugestão de mudança na lei eleitoral: o voto contra
Amigo internauta,
Mais uma vez vem à tona o assunto da reforma política. Aliás, isso é o nome bonito que estão chamando, porque na verdade só será alterada a lei eleitoral - a política continuará do mesmo jeito, sem reforma alguma.
Como ainda está no tempo das propostas, gostaria de contribuir com uma sugestão: o voto contra. O eleitor pode votar contra um candidato. Para efeitos de contagem de votos, cada voto contra cancela um voto a favor. Ou seja, um candidato que recebeu mil votos contra e mil votos a favor teria, para efeitos práticos, nenhum voto válido.
O resto permanece: votação proporcional, com legenda, etc.
Dessa forma, a massa do eleitorado que anula ou se recusa a votar se sente incentivada a se manifestar, pois passa a ser parte do processo eleitoral o que simbolicamente chamamos de "voto de protesto".
Além disso, as legendas seriam mais cuidadosas na confecção das chapas. Políticos impopulares, potenciais chamadores de "votos contra", comprometeriam todos os colegas de partido. Poderia gerar uma tendência deles perderem seu espaço, e dar oportunidade para novos políticos ocuparem o poder.
Eu sou a favor do voto contra.
Mais uma vez vem à tona o assunto da reforma política. Aliás, isso é o nome bonito que estão chamando, porque na verdade só será alterada a lei eleitoral - a política continuará do mesmo jeito, sem reforma alguma.
Como ainda está no tempo das propostas, gostaria de contribuir com uma sugestão: o voto contra. O eleitor pode votar contra um candidato. Para efeitos de contagem de votos, cada voto contra cancela um voto a favor. Ou seja, um candidato que recebeu mil votos contra e mil votos a favor teria, para efeitos práticos, nenhum voto válido.
O resto permanece: votação proporcional, com legenda, etc.
Dessa forma, a massa do eleitorado que anula ou se recusa a votar se sente incentivada a se manifestar, pois passa a ser parte do processo eleitoral o que simbolicamente chamamos de "voto de protesto".
Além disso, as legendas seriam mais cuidadosas na confecção das chapas. Políticos impopulares, potenciais chamadores de "votos contra", comprometeriam todos os colegas de partido. Poderia gerar uma tendência deles perderem seu espaço, e dar oportunidade para novos políticos ocuparem o poder.
Eu sou a favor do voto contra.
sábado, 16 de maio de 2009
Radamés Gnatalli, por Rania Debs e Antonio Fruscella
Amigo internauta,
O Antônio Fruscella, violonista italiano, recentemente me mandou um e-mail com link para um vídeo seu no youtube. Gostei especialmente de uma filmagem em que ele toca o último movimento da Suíte Retratos, de Radamés Gnatalli, em arranjo para violão e piano. A pianista é a Rania Debs.
Link: http://www.youtube.com/watch?v=z7adxiEjxg4
Para mais vídeos de Antônio Fruscella, http://www.youtube.com/user/duoguitarepiano
O Antônio Fruscella, violonista italiano, recentemente me mandou um e-mail com link para um vídeo seu no youtube. Gostei especialmente de uma filmagem em que ele toca o último movimento da Suíte Retratos, de Radamés Gnatalli, em arranjo para violão e piano. A pianista é a Rania Debs.
Link: http://www.youtube.com/watch?v=z7adxiEjxg4
Para mais vídeos de Antônio Fruscella, http://www.youtube.com/user/duoguitarepiano
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Gravação ao vivo de Concerto na Suíça homenageando Heitor Villa-Lobos
Amigo internauta,
No último sábado tive a oportunidade de tocar em Berna, capital da Suíça (eu também achava que era Zurique ou Genebra), num concerto organizado pela Embaixada do Brasil para homenagear os 50 anos de morte de Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Além de interpretações minhas, o concerto contou com a participação de uma camerata com alunos da Escola de Arte de Berna, sob a regência do maestro Felipe Cattapan.
A gravação da parte em que toco solo está disponível em www.alvarohenrique.com/Alvaro_Henrique_Live_in_Switzerland_09may2009_Villa-Lobos_Konzert.zip . Para mais gravações, www.alvarohenrique.com/gravacoes.html
No último sábado tive a oportunidade de tocar em Berna, capital da Suíça (eu também achava que era Zurique ou Genebra), num concerto organizado pela Embaixada do Brasil para homenagear os 50 anos de morte de Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Além de interpretações minhas, o concerto contou com a participação de uma camerata com alunos da Escola de Arte de Berna, sob a regência do maestro Felipe Cattapan.
A gravação da parte em que toco solo está disponível em www.alvarohenrique.com/Alvaro_Henrique_Live_in_Switzerland_09may2009_Villa-Lobos_Konzert.zip . Para mais gravações, www.alvarohenrique.com/gravacoes.html
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Como não pensar besteira: curso prático em 05 lições
Amigo internauta,
Recentemente tive o prazer de conhecer um colega blogueiro que assina como Fullanus de Thaal. Seu blog tem textos inteligentes e ácidos, que valem a pena a leitura. Dentre os que mais me agradaram, a série "Como não pensar besteira: curso prático em cinco lições" é fantástica. Abaixo seguem os links para cada lição. Espero que você goste!
Lição 1 .... Lição 2 .... Lição 3 .... Lição 4 .... Lição 5
Recentemente tive o prazer de conhecer um colega blogueiro que assina como Fullanus de Thaal. Seu blog tem textos inteligentes e ácidos, que valem a pena a leitura. Dentre os que mais me agradaram, a série "Como não pensar besteira: curso prático em cinco lições" é fantástica. Abaixo seguem os links para cada lição. Espero que você goste!
Lição 1 .... Lição 2 .... Lição 3 .... Lição 4 .... Lição 5
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