Amigo internauta,
O violonista Moacyr Teixeira Neto, professor da Faculdade de Música do Espírito Santo, está lançando seu quinto CD solo.
Aproveitando a oportunidade, o entrevistei para o site Violão Mandrião. A entrevista pode ser lida em http://www.violaomandriao.mus.br/artigos/130-entrevista-com-moacyr-teixeira-neto.html
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
domingo, 23 de agosto de 2009
sábado, 22 de agosto de 2009
Algumas premissas para se discutir sobre política
Amigo internauta,
Brasileiro adora conversar. Quando no centro da conversa há uma garrafa de cerveja, é certo que se discutirá política. Aliás, é um hábito muito saudável, tanto conversar sobre política quanto beber moderadamente. Porém, nas conversas que ando tendo, acho que há uma falta de conceitos básicos sobre política. Aqui vão apenas alguns que chamam mais a minha atenção.
1- Democracia não se resume ao desejo da maioria
A ditadura da maioria não é democracia, é populismo. É coisa de Hugo Chavez. É impôr à força o desejo da maior parte da população sob o restante, independente da opinião da minoria.
Talvez ter vindo de uma ditadura, situação em que uma minoria impõe à força seus desejos sob a maioria, tenha causado esse mal-entendido na cabeça de alguns. Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Democracia significa um pacto de convivência entre toda a sociedade. Significa que a maioria não pode esmagar a minoria. Significa que minoria tem poder, representatividade, voz, e tem o direito legítimo de lutar pelos seus anseios e interesses.
2- A esquerda não são só mocinhos e a direita não se resume a bandidos
Lá vem os males da ditadura de novo. Realmente é complicado, no Brasil, ser a favor da direita quando a direita era apenas o braço político da ditadura. Continua complicado quando a direita ainda é representada por quem foi o braço político da ditadura. Espero que quando essa geração que mamou nas tetas da ditadura morra ou caia fora do poder seja enterrada junto essa ideia que vêm dando sustentação a políticos que se utilizam de um discurso e uma imagem de esquerda para apresentarem uma forma de governar idêntica à direita.
3- O voto
É por meio da política que instituições maiores que o indivíduo impõem mudanças à vida deste. Política, portanto, se resume mais a que ações são tomadas que quem foi o autor destas. Portanto, a participação não pode se resumir a apenas escolher quem serão os protagonistas dos próximos quatro anos, mas em acompanhar e procurar interferir nas ações que eles irão tomar.
A pessoa que não vota mas procura se comunicar com políticos e transmitir seus anseios tem uma participação política mais intensa que a que sempre comparece na eleição e no restante do tempo está preocupado apenas com o que acontece na novela ou com o jogo do próximo domingo.
Votar não é participar da política. É só escolher os principais personagens que participam desta.
4 - O que mata o Brasil são os analfabetos, nordestinos, pobres, etc.
É terrível que no Brasil haja analfabetos, miseráveis, incultos, e realmente isso é um problema grave. Mas é hipócrita e idiota achar que a culpa dos males da nação está justamente na camada mais explorada do país. É dizer que a vítima é a responsável pelo crime que sofreu, não o bandido.
Hipoteticamente falando, é verossímil imaginar que o voto dos que estão em situação de risco tão grande que consideram usar o voto como mercadoria para suprir suas necessidades básicas é a fonte da escolha de maus políticos. Mas a prática mostra que a coisa não é bem assim. Quando o estado de São Paulo elege como deputado mais votado um notório desperdiçador de dinheiro público (estou gentil hoje) como o Maluf, o que leva pro congresso não só o próprio, mas vários coleguinhas de igual estirpe via quociente eleitoral, não dá pra dizer que só o nordeste é irresponsável.
Especialmente no estado em que voto, no DF, tenho acompanhado quanto políticos associados à corrupção ganham em zonas eleitorais de alto poder aquisitivo. Ao contrário do que a classe média pensa, o preferido dos miseráveis também parece ser o queridinho dos ricassos. Ah, mas criticar milionário pega mal, o bom é falar mal de quem passa fome.
5 - É injusto que um deputado num estado se eleja com poucos votos e no outro com milhares
Essa vai especialmente para os paulistas. Eles adoram falar isso numa tentativa desesperada de obter ainda mais poder político pra si, pouco se importando que eles estão tirando o pouco poder político de pessoas que são muito mais dependentes do estado.
Porém, o deputado que se elegeu com menor número de votos na história recente veio exatamente do estado de São Paulo. Em 2002, quando Enéias foi o deputado mais votado desse estado, o quociente eleitoral trouxe com ele mais alguns coleguinhas de partido. Um desses não teve 300 votos. Com 300 votos não é possível se eleger deputado estadual em qualquer unidade da federação. Mas no estado de São Paulo, foi possível para se eleger deputado federal. O voto de menos de 300 paulistas foi mais importante que o voto de milhares de eleitores de outros estados.
Há outras ideias que acho que precisam ser mais claras para as pessoas que gostam de falar de política, mas essas são apenas as que me chamam mais a atenção, amigo internauta. Espero que elas contribuam para discussões mais sadias. E, acima de tudo, que as pessoas não fiquem apenas no discurso. Se o povo brasileiro se mobilizasse para a política com a metade do ardor com que se manifesta sobre a seleção brasileira, teríamos um país em que os governantes seriam tão bons na gestão pública quanto nossos craques dominam a bola.
Brasileiro adora conversar. Quando no centro da conversa há uma garrafa de cerveja, é certo que se discutirá política. Aliás, é um hábito muito saudável, tanto conversar sobre política quanto beber moderadamente. Porém, nas conversas que ando tendo, acho que há uma falta de conceitos básicos sobre política. Aqui vão apenas alguns que chamam mais a minha atenção.
1- Democracia não se resume ao desejo da maioria
A ditadura da maioria não é democracia, é populismo. É coisa de Hugo Chavez. É impôr à força o desejo da maior parte da população sob o restante, independente da opinião da minoria.
Talvez ter vindo de uma ditadura, situação em que uma minoria impõe à força seus desejos sob a maioria, tenha causado esse mal-entendido na cabeça de alguns. Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Democracia significa um pacto de convivência entre toda a sociedade. Significa que a maioria não pode esmagar a minoria. Significa que minoria tem poder, representatividade, voz, e tem o direito legítimo de lutar pelos seus anseios e interesses.
2- A esquerda não são só mocinhos e a direita não se resume a bandidos
Lá vem os males da ditadura de novo. Realmente é complicado, no Brasil, ser a favor da direita quando a direita era apenas o braço político da ditadura. Continua complicado quando a direita ainda é representada por quem foi o braço político da ditadura. Espero que quando essa geração que mamou nas tetas da ditadura morra ou caia fora do poder seja enterrada junto essa ideia que vêm dando sustentação a políticos que se utilizam de um discurso e uma imagem de esquerda para apresentarem uma forma de governar idêntica à direita.
3- O voto
É por meio da política que instituições maiores que o indivíduo impõem mudanças à vida deste. Política, portanto, se resume mais a que ações são tomadas que quem foi o autor destas. Portanto, a participação não pode se resumir a apenas escolher quem serão os protagonistas dos próximos quatro anos, mas em acompanhar e procurar interferir nas ações que eles irão tomar.
A pessoa que não vota mas procura se comunicar com políticos e transmitir seus anseios tem uma participação política mais intensa que a que sempre comparece na eleição e no restante do tempo está preocupado apenas com o que acontece na novela ou com o jogo do próximo domingo.
Votar não é participar da política. É só escolher os principais personagens que participam desta.
4 - O que mata o Brasil são os analfabetos, nordestinos, pobres, etc.
É terrível que no Brasil haja analfabetos, miseráveis, incultos, e realmente isso é um problema grave. Mas é hipócrita e idiota achar que a culpa dos males da nação está justamente na camada mais explorada do país. É dizer que a vítima é a responsável pelo crime que sofreu, não o bandido.
Hipoteticamente falando, é verossímil imaginar que o voto dos que estão em situação de risco tão grande que consideram usar o voto como mercadoria para suprir suas necessidades básicas é a fonte da escolha de maus políticos. Mas a prática mostra que a coisa não é bem assim. Quando o estado de São Paulo elege como deputado mais votado um notório desperdiçador de dinheiro público (estou gentil hoje) como o Maluf, o que leva pro congresso não só o próprio, mas vários coleguinhas de igual estirpe via quociente eleitoral, não dá pra dizer que só o nordeste é irresponsável.
Especialmente no estado em que voto, no DF, tenho acompanhado quanto políticos associados à corrupção ganham em zonas eleitorais de alto poder aquisitivo. Ao contrário do que a classe média pensa, o preferido dos miseráveis também parece ser o queridinho dos ricassos. Ah, mas criticar milionário pega mal, o bom é falar mal de quem passa fome.
5 - É injusto que um deputado num estado se eleja com poucos votos e no outro com milhares
Essa vai especialmente para os paulistas. Eles adoram falar isso numa tentativa desesperada de obter ainda mais poder político pra si, pouco se importando que eles estão tirando o pouco poder político de pessoas que são muito mais dependentes do estado.
Porém, o deputado que se elegeu com menor número de votos na história recente veio exatamente do estado de São Paulo. Em 2002, quando Enéias foi o deputado mais votado desse estado, o quociente eleitoral trouxe com ele mais alguns coleguinhas de partido. Um desses não teve 300 votos. Com 300 votos não é possível se eleger deputado estadual em qualquer unidade da federação. Mas no estado de São Paulo, foi possível para se eleger deputado federal. O voto de menos de 300 paulistas foi mais importante que o voto de milhares de eleitores de outros estados.
Há outras ideias que acho que precisam ser mais claras para as pessoas que gostam de falar de política, mas essas são apenas as que me chamam mais a atenção, amigo internauta. Espero que elas contribuam para discussões mais sadias. E, acima de tudo, que as pessoas não fiquem apenas no discurso. Se o povo brasileiro se mobilizasse para a política com a metade do ardor com que se manifesta sobre a seleção brasileira, teríamos um país em que os governantes seriam tão bons na gestão pública quanto nossos craques dominam a bola.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Entrevista com Alvaro Pierri publicada no site do Violão Mandrião
Amigo internauta,
Uma entrevista que em 2008 o violonista uruguaio Álvaro Pierri me concedeu foi finalmente publicada, após recusada por duas revistas. O material está no http://www.violaomandriao.mus.br/the-news/121-entrevista-com-alvaro-pierri-inedita-concedida-em-2008.html
Foi um prazer falar com esse xará, um dos maiores violonistas da atualidade, que divide seu tempo entre Viena, Montreal e as diversas cidades que ele se apresenta. Já dividiu o palco com grandes músicos, como Leo Brouwer e Astor Piazzolla, e continua engrandecendo o mundo da música.
Uma entrevista que em 2008 o violonista uruguaio Álvaro Pierri me concedeu foi finalmente publicada, após recusada por duas revistas. O material está no http://www.violaomandriao.mus.br/the-news/121-entrevista-com-alvaro-pierri-inedita-concedida-em-2008.html
Foi um prazer falar com esse xará, um dos maiores violonistas da atualidade, que divide seu tempo entre Viena, Montreal e as diversas cidades que ele se apresenta. Já dividiu o palco com grandes músicos, como Leo Brouwer e Astor Piazzolla, e continua engrandecendo o mundo da música.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Morre a esquerda brasileira
Amigo internauta,
Se um dia a história selecionar um dia para marcar a morte da esquerda brasileira, provavelmente será o 19 de agosto de 2009.
A forma como o PT livrou a cara do Sarney no Conselho de Ética marca o enterro definitivo de tudo o que ser "esquerda" poderia significar.
O que nos resta é apenas uma geração de ex-sindicalistas mamando na teta do governo. Todos os companheiros viraram coronéis.
A gente como eu, que sempre votou na esquerda, só resta uma alternativa: www.forasarney.com.br
Se um dia a história selecionar um dia para marcar a morte da esquerda brasileira, provavelmente será o 19 de agosto de 2009.
A forma como o PT livrou a cara do Sarney no Conselho de Ética marca o enterro definitivo de tudo o que ser "esquerda" poderia significar.
O que nos resta é apenas uma geração de ex-sindicalistas mamando na teta do governo. Todos os companheiros viraram coronéis.
A gente como eu, que sempre votou na esquerda, só resta uma alternativa: www.forasarney.com.br
domingo, 16 de agosto de 2009
www.violaomandriao.mus.br
Amigo internauta,
Estou escrevendo textos sobre violão no www.violaomandriao.mus.br. Os artigos postarei também aqui, mas divulgação de eventos e resenhas de recitais e gravações serão publicadas apenas lá. Entrevistas e outros textos mais provavelmente apenas indicarei aqui o link.
Foi com muita alegria que recebi o convite para escrever nesse site. Conheço-o já há alguns anos, e é uma honra poder colaborar com esse site dedicado ao violão erudito.
Estou escrevendo textos sobre violão no www.violaomandriao.mus.br. Os artigos postarei também aqui, mas divulgação de eventos e resenhas de recitais e gravações serão publicadas apenas lá. Entrevistas e outros textos mais provavelmente apenas indicarei aqui o link.
Foi com muita alegria que recebi o convite para escrever nesse site. Conheço-o já há alguns anos, e é uma honra poder colaborar com esse site dedicado ao violão erudito.
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Estou no twitter
Amigo internauta,
Gostaria de convidá-lo para me acompanhar no twitter. Minha conta é http://twitter.com/alvaroguitar
Estou gostando do formato "enxuto" do twitter, e uma das utilidades mais legais é poder divulgar eventos culturais com agilidade.
Gostaria de convidá-lo para me acompanhar no twitter. Minha conta é http://twitter.com/alvaroguitar
Estou gostando do formato "enxuto" do twitter, e uma das utilidades mais legais é poder divulgar eventos culturais com agilidade.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Envio de partituras - BRAVIO homenageará os 50 anos de Brasília
A Associação Brasiliense de Violão (BRAVIO) quer homenagear os 50 anos de Brasília e os 5 anos da entidade, a serem celebrados em 2010.
Pedimos a todos os compositores que escreveram obras para violão solo que homenageam a capital federal a enviar partituras para bravio@bravio.mus.br , de preferência em formato pdf. Obras de compositores nascidos ou residentes em Brasília são também bem-vindas, bem como qualquer obra inédita escrita para a ocasião.
As partituras serão enviadas para os 11 violonistas que farão recitais nos eventos da BRAVIO em 2010. Cada artista selecionará ao menos uma delas para tocar em sua apresentação.
Grato,
BRAVIO
www.bravio.mus.br
Pedimos a todos os compositores que escreveram obras para violão solo que homenageam a capital federal a enviar partituras para bravio@bravio.mus.br , de preferência em formato pdf. Obras de compositores nascidos ou residentes em Brasília são também bem-vindas, bem como qualquer obra inédita escrita para a ocasião.
As partituras serão enviadas para os 11 violonistas que farão recitais nos eventos da BRAVIO em 2010. Cada artista selecionará ao menos uma delas para tocar em sua apresentação.
Grato,
BRAVIO
www.bravio.mus.br
domingo, 2 de agosto de 2009
Gilberto Dimenstein, um bem-intencionado que não vê o todo.
Amigo internauta,
Em matéria recente na Folha de São Paulo ( http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/gilbertodimenstein/ult508u600784.shtml ) e em comentários na Rádio CBN o jornalista Gilberto Dimenstein têm desqualificado o que promete ser a melhor política cultural da década, o Vale-Cultura.
A crítica dele, pelo que pude entender, é baseada em dois principais pontos: ele considera inadequado que esse valor venha a ser utilizado para consumir pagode, funk, sertanejo e livros de auto-ajuda; e crê que os alunos da escola pública são as únicas pessoas capazes de escolher bem os produtos culturais, pois por serem alunos consumiriam produtos culturais relacionados à educação.
Sou músico erudito, e compartilho da preocupação do Dimenstein em incentivar as pessoas a entrar em contato com manifestações culturais mais ricas e sofisticadas. No entanto, não podemos em hipótese alguma desqualificar qualquer manifestação cultural produzida no Brasil. Precisamos atrair os brasileiros a conhecer mais o melhor da sua própria cultura, possibilitar que artistas vivos continuem produzindo arte da maior qualidade possível, mas nunca considerar menor qualquer manifestação cultural, por melhor que sejam as intenções. Toda manifestação cultural representa uso, costumes, anseios e o simbólico de um grupo social. Portanto, não há qualquer diferença entre perseguir o sertanejo e seus admiradores, por exemplo.
Além disso, todo produto cultural precisa de toda uma cadeia produtiva para chegar ao consumidor final. Quando elos da cadeia produtiva ficam mais fortes, todas as manifestações culturais ganham, inclusive as que Dimenstein possa considerar as únicas dignas de apoio governamental. Por exemplo, a venda de livros de auto-ajuda pode permitir que editoras mais fortes possam lançar livros cujo retorno imediato de vendas seja baixo, ou que as livrarias com mais frequentadores possam incluir nas estantes uma maior variedade de títulos. Em diversos estados, só há estúdios de gravação com os equipamentos que músicos eruditos como eu precisam para gravar Bach e Beethoven porque eles são financiados por bandas de rock, axé, pagode, funk, sertanejo ou mesmo por empresas de jingles.
Um dos motivos pelo qual creio que as pessoas consomem pouca cultura é a simples falta de hábito, ou insegurança. Para essas pessoas que se acham indignas para ir a certos espetáculos, ler certos livros, ir a certos teatros, não é suficiente apenas prover eventos gratuitos (ou, como Dimenstein prefere dizer, "catraca livre"), é preciso dar um incentivo. Creio que oferecer a essas pessoas um valor que só pode ser gasto em cultura pode dar o empurrãozinho que falta para elas se tornarem frequentadores assíduos de teatros, livrarias, salas de concerto, etc.
Quanto à argumentação sobre educação e cultura, realmente não consigo entender qual é o ponto do Dimenstein. Se ele pensa que a escola e os professores vão influenciar diretamente o que estudantes de escola pública ouvem, lêem, e assistem com força mais intensa que os próprios colegas e a mídia, ele está equivocadíssimo. Especialmente os alunos com idade suficiente para realmente escolher que arte querem apreciar se unem em tribos em que o que eles ouvem e lêem é o principal fator que determina a identidade de grupo. E as tribos que há são justamente a do funk, a do pagode, a do rock, a do sertanejo, a do RPG, a do mangá, a do tecno, etc. Ainda não vi por aí em qualquer escola de primeiro e segundo grau a turma da Bossa-Nova, a da música erudita, a do parnasianismo, ou a do modernismo verde-amarelista.
Por fim, embora Dimenstein não tenha dito isso diretamente, não podemos deixar de notar que várias pessoas que concordam com ele crêem que "o povo" é idiota e "a elite" é sábia. Quem é que está gastando R$ 500 em abadás para ouvir bandas de axé? Ou comprando ingressos para ouvir Chitãozinho e Xororó no Credicard Hall? Será que alguma vez ele frequentou o estacionamento da USP ou outra universidade e prestou atenção que tipo de música e que tipo de livros estão ouvindo e lendo os universitários, inclusive os de pós que já ocupam posições de poder?
Gilberto Dimenstein têm colaborado para incentivar as pessoas, especialmente aos paulistanos, a consumir produtos culturais da melhor qualidade possível. Apesar disso, sua visão sobre o Vale-Cultura parece demasiado míope, e suas sugestões tornariam-no mais fraco, mais pobre, beneficiando um menor número de pessoas, e contrário à diversidade da cultura feita no Brasil.
Em matéria recente na Folha de São Paulo ( http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/gilbertodimenstein/ult508u600784.shtml ) e em comentários na Rádio CBN o jornalista Gilberto Dimenstein têm desqualificado o que promete ser a melhor política cultural da década, o Vale-Cultura.
A crítica dele, pelo que pude entender, é baseada em dois principais pontos: ele considera inadequado que esse valor venha a ser utilizado para consumir pagode, funk, sertanejo e livros de auto-ajuda; e crê que os alunos da escola pública são as únicas pessoas capazes de escolher bem os produtos culturais, pois por serem alunos consumiriam produtos culturais relacionados à educação.
Sou músico erudito, e compartilho da preocupação do Dimenstein em incentivar as pessoas a entrar em contato com manifestações culturais mais ricas e sofisticadas. No entanto, não podemos em hipótese alguma desqualificar qualquer manifestação cultural produzida no Brasil. Precisamos atrair os brasileiros a conhecer mais o melhor da sua própria cultura, possibilitar que artistas vivos continuem produzindo arte da maior qualidade possível, mas nunca considerar menor qualquer manifestação cultural, por melhor que sejam as intenções. Toda manifestação cultural representa uso, costumes, anseios e o simbólico de um grupo social. Portanto, não há qualquer diferença entre perseguir o sertanejo e seus admiradores, por exemplo.
Além disso, todo produto cultural precisa de toda uma cadeia produtiva para chegar ao consumidor final. Quando elos da cadeia produtiva ficam mais fortes, todas as manifestações culturais ganham, inclusive as que Dimenstein possa considerar as únicas dignas de apoio governamental. Por exemplo, a venda de livros de auto-ajuda pode permitir que editoras mais fortes possam lançar livros cujo retorno imediato de vendas seja baixo, ou que as livrarias com mais frequentadores possam incluir nas estantes uma maior variedade de títulos. Em diversos estados, só há estúdios de gravação com os equipamentos que músicos eruditos como eu precisam para gravar Bach e Beethoven porque eles são financiados por bandas de rock, axé, pagode, funk, sertanejo ou mesmo por empresas de jingles.
Um dos motivos pelo qual creio que as pessoas consomem pouca cultura é a simples falta de hábito, ou insegurança. Para essas pessoas que se acham indignas para ir a certos espetáculos, ler certos livros, ir a certos teatros, não é suficiente apenas prover eventos gratuitos (ou, como Dimenstein prefere dizer, "catraca livre"), é preciso dar um incentivo. Creio que oferecer a essas pessoas um valor que só pode ser gasto em cultura pode dar o empurrãozinho que falta para elas se tornarem frequentadores assíduos de teatros, livrarias, salas de concerto, etc.
Quanto à argumentação sobre educação e cultura, realmente não consigo entender qual é o ponto do Dimenstein. Se ele pensa que a escola e os professores vão influenciar diretamente o que estudantes de escola pública ouvem, lêem, e assistem com força mais intensa que os próprios colegas e a mídia, ele está equivocadíssimo. Especialmente os alunos com idade suficiente para realmente escolher que arte querem apreciar se unem em tribos em que o que eles ouvem e lêem é o principal fator que determina a identidade de grupo. E as tribos que há são justamente a do funk, a do pagode, a do rock, a do sertanejo, a do RPG, a do mangá, a do tecno, etc. Ainda não vi por aí em qualquer escola de primeiro e segundo grau a turma da Bossa-Nova, a da música erudita, a do parnasianismo, ou a do modernismo verde-amarelista.
Por fim, embora Dimenstein não tenha dito isso diretamente, não podemos deixar de notar que várias pessoas que concordam com ele crêem que "o povo" é idiota e "a elite" é sábia. Quem é que está gastando R$ 500 em abadás para ouvir bandas de axé? Ou comprando ingressos para ouvir Chitãozinho e Xororó no Credicard Hall? Será que alguma vez ele frequentou o estacionamento da USP ou outra universidade e prestou atenção que tipo de música e que tipo de livros estão ouvindo e lendo os universitários, inclusive os de pós que já ocupam posições de poder?
Gilberto Dimenstein têm colaborado para incentivar as pessoas, especialmente aos paulistanos, a consumir produtos culturais da melhor qualidade possível. Apesar disso, sua visão sobre o Vale-Cultura parece demasiado míope, e suas sugestões tornariam-no mais fraco, mais pobre, beneficiando um menor número de pessoas, e contrário à diversidade da cultura feita no Brasil.
sábado, 1 de agosto de 2009
Vale-cultura e mudanças na Lei Rouanet
Amigo internauta,
O Ministério da Cultura têm divulgado duas iniciativas que pretendem melhorar a produção e o consumo cultural no Brasil.
O primeiro deles são mudanças na Lei Rounet que já precisavam ser feitas há dez anos, mas que ministros anteriores não deram a devida atenção. Coisa natural quando um beneficiado pelas distorções da lei ocupa a pasta.
Da forma como a lei Rouanet está, são beneficiados com verba pública quase principalmente artistas que não precisam dela, ou empresas que naturalmente patrocinariam certos projetos e artistas em função de seu plano de marketing. Trocando em miúdos: quem não precisa de dinheiro público é quem ganha, e quem precisa continua sem.
Além disso, a burocracia é tão complicada que intermediários se tornaram uma obrigatoriedade. Mais que isso, com frequência esses intermediários ganham mais que o próprio artista.
Embora tenha procurado no www.cultura.gov.br, não consegui encontrar informações detalhadas sobre seriam as mudanças. A única informação pertinente que encontrei é que não haverão mais projetos com 100% de isenção fiscal, e terão mais faixas de desconto (de 30% a 90%). A seleção de em qual faixa de isenção o projeto será enquadrado dependeria de parecer do MinC, e teria relação direta com a acessibilidade daquele produto cultural. Aguardemos mais informações.
Mas uma novidade têm ocupado os holofotes: o vale-cultura, que funcionaria de forma similar ao vale-transporte e o vale-alimentação. Sua adoção seria facultativa, e o empresário que participasse teria desconto no imposto de renda. O trabalhador ganharia um cartão (como os de banco) com valor máximo de R$ 50 mensais.
Não consegui encontrar informações detalhadas, no entanto, de como os artistas poderiam vender para usuários do vale-cultura. Por exemplo, não entendi como um músico que está vendendo CDs independentes, um artista de rua que vende quadros, ou mesmo uma banda que organiza um show por conta própria poderia aceitar vale-cultura como forma de pagamento. Aparentemente, esse projeto parece privilegiar o consumo de produtos de empresas culturais, como cinemas, livrarias, teatros, e não o próprio artista.
Porém, parece a melhor iniciativa cultural do governo atual. A produção cultural, apesar dos pesares, não está tão mal, e já há muito tempo há um grave problema no consumo dos produtos culturais. A iniciativa visa incentivar e dar oportunidade a um número maior de brasileiros apreciar a produção artística em nosso país.
Aparentemente, todas essas iniciativas contam com a participação de diversos artistas na sua elaboração. Pode ser ingenuidade minha, mas estou confiante que melhorias vão sair desses projetos. Não acredito, no entanto, que o resultado será o ideal ou o mais adequado. Pra atingir o ideal, teria de ser algo feito num governo menos centralizador.
O Ministério da Cultura têm divulgado duas iniciativas que pretendem melhorar a produção e o consumo cultural no Brasil.
O primeiro deles são mudanças na Lei Rounet que já precisavam ser feitas há dez anos, mas que ministros anteriores não deram a devida atenção. Coisa natural quando um beneficiado pelas distorções da lei ocupa a pasta.
Da forma como a lei Rouanet está, são beneficiados com verba pública quase principalmente artistas que não precisam dela, ou empresas que naturalmente patrocinariam certos projetos e artistas em função de seu plano de marketing. Trocando em miúdos: quem não precisa de dinheiro público é quem ganha, e quem precisa continua sem.
Além disso, a burocracia é tão complicada que intermediários se tornaram uma obrigatoriedade. Mais que isso, com frequência esses intermediários ganham mais que o próprio artista.
Embora tenha procurado no www.cultura.gov.br, não consegui encontrar informações detalhadas sobre seriam as mudanças. A única informação pertinente que encontrei é que não haverão mais projetos com 100% de isenção fiscal, e terão mais faixas de desconto (de 30% a 90%). A seleção de em qual faixa de isenção o projeto será enquadrado dependeria de parecer do MinC, e teria relação direta com a acessibilidade daquele produto cultural. Aguardemos mais informações.
Mas uma novidade têm ocupado os holofotes: o vale-cultura, que funcionaria de forma similar ao vale-transporte e o vale-alimentação. Sua adoção seria facultativa, e o empresário que participasse teria desconto no imposto de renda. O trabalhador ganharia um cartão (como os de banco) com valor máximo de R$ 50 mensais.
Não consegui encontrar informações detalhadas, no entanto, de como os artistas poderiam vender para usuários do vale-cultura. Por exemplo, não entendi como um músico que está vendendo CDs independentes, um artista de rua que vende quadros, ou mesmo uma banda que organiza um show por conta própria poderia aceitar vale-cultura como forma de pagamento. Aparentemente, esse projeto parece privilegiar o consumo de produtos de empresas culturais, como cinemas, livrarias, teatros, e não o próprio artista.
Porém, parece a melhor iniciativa cultural do governo atual. A produção cultural, apesar dos pesares, não está tão mal, e já há muito tempo há um grave problema no consumo dos produtos culturais. A iniciativa visa incentivar e dar oportunidade a um número maior de brasileiros apreciar a produção artística em nosso país.
Aparentemente, todas essas iniciativas contam com a participação de diversos artistas na sua elaboração. Pode ser ingenuidade minha, mas estou confiante que melhorias vão sair desses projetos. Não acredito, no entanto, que o resultado será o ideal ou o mais adequado. Pra atingir o ideal, teria de ser algo feito num governo menos centralizador.
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