sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sobre concursos de violão no Brasil

Amigo internauta,

Recebi no alvaroguitar@gmail.com a seguinte pergunta do violonista João Oliveira:

"Sou de Recife. Gostaria de participar de um concurso de violão. Só posso ir a um. Você poderia me indicar qual seria mais vantajoso?"

O grande problema é determinar o que é vantajoso. Vamos ver um breve panorama de concursos musicais, em especial dos concursos de violão no Brasil.

Quais são as vantagens em se fazer um concurso? As mais óbvias são a criação de objetivos no estudo, o incentivo a se superar tecnica e musicalmente, a oportunidade de se comparar com músicos que estão na mesma fase da carreira, realizar contatos e explorar composições que, por estímulo próprio, não fariam parte do seu repertório.

E quais são as desvantagens? Nem sempre o repertório exigido é do nosso interesse ou permite mostrar o que fazemos de melhor, os custos (não apenas financeiros, mas de tempo, energia, stress, etc.) só serão recompensados caso consigamos um prêmio, e podem ocorrer frustrações por um resultado inesperado.

No Brasil, a maior parte dos concursos só oferecem prêmios modestos. Além disso, resultados que podem revoltar os participantes acontecem mesmo nos concursos mais idôneos.

Portanto, para decidir qual concurso é o mais vantajoso, é preciso escolher qual exige o menor custo financeiro, menos tempo de preparação, menos composições que não nos interessam, maior possibilidade de um bom resultado e que podem oferecer prêmios mais interessantes.

O país possui, atualmente, apenas cinco concursos de violão perenes. Concursos eventuais também fazem parte do calendário, e anos recentes tiveram cerca de dez concursos realizados. Dos cinco, um é realizado no Nordeste (concurso do FENAVIPI), um no Centro-Oeste (Concurso Eustáquio Grilo) e os demais no Sudeste.

O Concurso do FENAVIPI faz parte do Festival Nacional de Violão do Piauí, e é realizado em fevereiro, na cidade de Teresina. Há premiação em dinheiro para os três colocados, e o vencedor toca na edição seguinte do mesmo festival, com cachê e despesas pagas.

É oferecido ao candidato uma ampla lista de repertório, com a maior parte pertencente ao "cânone" do repertório erudito, que pode escolher livremente composições da lista.

Por ser um concurso que faz parte de um importante festival de violão, pode ser vantajoso aproveitar a oportunidade de fazer aulas e assistir concertos de grandes músicos e voltar com um prêmio pra casa. No entanto, toda essa atividade pode desviar a atenção de quem está buscando oportunidades profissionais pra carreira, e os candidatos frequentemente sobem ao palco sem estar totalmente preparados.

O festival não cobra inscrição, e a primeira seleção é por gravação. Eventualmente é oferecida hospedagem coletiva (o que diminui a chance de se preparar adequadamente). Custos de alimentação e transporte correm pelo candidato. O evento dura uma semana.

O Concurso Eustáquio Grilo é realizado pela Associação Brasiliense de Violão, em julho, em Brasília. Até o presente momento só o primeiro lugar é premiado com uma série de quatro concertos com cachê em cidades distintas. A avaliação é feita por notas em quesitos pré-definidos que lembram a de escolas de samba. As notas são enviadas para os candidatos após o encerramento do certame.

Até a presente edição, numa etapa é cobrada uma composição de autor estrangeiro e na outra uma de compositor brasileiro, com ampla possibilidade de escolher qualquer obra.

O evento também faz parte de um festival, que via de regra apresenta apenas concertos com vencedores de concursos internacionais, sem aulas. Dessa forma, conjuga a oportunidade de conhecer violonistas que foram premiados em concursos no exterior (um passo seguinte na vida de todos que realizam concursos no Brasil), com a possibilidade de se preparar adequadamente.

O concurso cobra taxa de inscrição. Custos de alimentação, hospedagem e transporte são pagos pelo candidato. O evento dura um fim-de-semana.

O Concurso Fred Schneiter é bienal, realizado em ano ímpar, na cidade de Niterói (RJ). Os três primeiros candidatos são premiados em dinheiro. O vencedor ganha um recital. O repertório exigido varia bastante, mas inclui composições do homenageado e de outros autores cariocas de expressão local. Houve edições em que quase todas as obras exigidas eram composições populares.

O concurso cobra taxa de inscrição. A primeira etapa da avaliação é por gravação. Custos de alimentação, hospedagem e transporte são pagos pelo candidato. O evento dura cerca de quatro dias.

O Concurso Souza Lima é organizado pelo Henrique Pinto, em São Paulo. Via de regra, apenas o vencedor é premiado com um concerto sem cachê e sem os custos pagos. É um dos concursos mais controversos em atividade, e frequentemente seus resultados são questionados. Alunos do organizador concorrem com os demais candidatos, e são levantadas dúvidas sobre a igualdade de condições dos concorrentes.

O concurso cobra taxa de inscrição. Todos os custos são pagos pelo candidato. O evento dura um fim-de-semana.

O Concurso Musicalis foi organizado durante muitos anos por Gilson Antunes, e agora o Fábio Bartoloni está à frente. Também realizado em São Paulo, costuma acontecer em data próxima ao Souza Lima, e com frequência têm os mesmos participantes. A premiação é bastante irregular, e pode variar de apenas brindes (CDs e cordas) a instrumentos novos, recitais e dinheiro.

O concurso cobra taxa de inscrição. Todos os custos são pagos pelo candidato. O evento dura um fim-de-semana.

No Espírito Santo, Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais eventualmente surgem concursos extras. Visite sites especializados como o violaomandriao.com.br para estar atento a essas novidades.

Creio que essas informações já são o suficiente pro João avaliar qual concurso pode ser o mais vantajoso. Se ele estiver seguro que vencerá, pode ser interessante ir no concurso com o maior prêmio, independente do que é oferecido pros demais candidatos. Caso queira acima de tudo ter motivação para estudar, um concurso que exige o mesmo repertório que ele deseja se aperfeiçoar é melhor. Caso os custos financeiros sejam um problema, o concurso que exigir menor deslocamento e menos dias de hospedagem é o mais interessante. Caso ele não queira lidar com uma frustração, um concurso com maiores chances de idoneidade seria o ideal.

Se me permite um conselho mais direto, baseado nas informações que o João forneceu (nunca o ouvi tocar), creio que o concurso do FENAVIPI e o Concurso Eustáquio Grilo seriam os melhores. Provavelmente as inscrições para o FENAVIPI 2010 já tenham se encerrado, portanto o Concurso Eustáquio Grilo parece ser a melhor opção disponível. Caso os custos financeiros não sejam um problema e o resultado é menos importante que o preparo para o concurso em si, pode ser muito bom ir a São Paulo e emendar o concurso Souza Lima e o Musicalis, que costumam ser em fins-de-semana vizinhos.

Boa sorte, João, espero que essas dicas e conselhos te auxiliem. Converse sobre esse assunto com outros violonistas também. E não se esqueça: há mais a ganhar num concurso musical que o primeiro lugar.

Caso você tenha alguma pergunta sobre música e violão, amigo internauta, envie para alvaroguitar@gmail.com e responderemos aqui.

3 comentários:

  1. Gostei muito das informações.

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  2. Informações completíssimas. Tirei todas as minhas dúvidas. Vou me preparar e... quem sabe um dia, esteja preparado para encarar uma platéia atenta aos meus deslizes.

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