Segue outro texto inteligente de Gilberto Dimenstein que reflete exatamente minha opinião sobre a Lei Rouanet.
15/06/2009
Caetano precisa de ajuda?
Estive no show de Caetano Veloso em São Paulo e notei que, apesar do alto preço dos ingressos, todos os lugares estavam ocupados --apenas preço do estacionamento era de R$ 25. Daí se vê o absurdo de uma possível concessão de R$ 2 milhões à turnê nacional desse espetáculo, graças à Lei Rouanet.
Não me senti jogando dinheiro fora ao pagar o alto valor dos ingressos. Muito pelo contrário: Caetano é um talento extraordinário. Mas sinto que meu dinheiro está sendo jogado fora quando recurso público acaba patrocinando esse tipo de evento.
Caetano ajuda a sintetizar meu incômodo com a Lei Rouanet, que o governo pretende reformar. A concessão do incentivo fiscal, como muitos outros incentivos públicos, para a cultura muitas vezes reforça a lógica da desigualdade do país. Faria mais sentido se Caetano, assim como as celebridades artísticas, recebesse o dinheiro em troca não apenas de ingressos gratuitos, mas de oficinas culturais ou aulas-espetáculo. Em poucas palavras, a concessão do benefício estaria condicionada a algum projeto pela melhoria da educação pública.
Todos sairiam ganhando com essa troca: os estudantes mais pobres teriam a chance de uma inesquecível aula-espetáculo.
E o artista teria, além do apoio financeiro, o prazer de compartilhar sua experiência com quem dificilmente assistiria ao seu espetáculo.
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