Amigo internauta,
Continuando nossa conversa sobre música, vamos falar brevemente de elementos que constituem uma composição musical.
O mais conhecido deles é a melodia. Uma possível definição de melodia seria "sucessão de alturas com um sentido completo". Difícil definir, fácil de entender. A melodia normalmente é o aspecto mais sedutor de uma composição, que mais cativa o ouvido. O mais importante a ser compreendido é que a melodia ocorre na linha do tempo, ou seja, só é possível ouvir uma melodia com a passagem do tempo.
É possível haver músicas sem melodia. Ao contrário do que muitos podem pensar a princípio, dá pra escrever composições bacanas assim. Abaixo segue um exemplo, Lun-Duos, de Paulo Bellinati (1950-).
Por outro lado, também é possível escrever música com mais de uma melodia ao mesmo tempo. Seguem dois exemplos abaixo, a Invenção no 1 em Dó maior, de Johann Sebastian Bach (1685-1750) e And the Glory of the Lord, de Georg Friedrich Haendel (1685-1759).
Note que nesse segundo vídeo tem um elemento interessante: dentre as melodias que o coro canta, soa uma primeira (and the glory, the glory of the lord...), logo após uma segunda (for the mouth of the lord...) e, por volta de 1:45 as duas são cantadas simultaneamente.
A partir do século XIX os compositores começaram a explorar aspectos da melodia que, no século XX desencadearam em melodias incomuns. Nas Seis Pequenas Peças para Piano, op. 19, de Arnold Schoenberg (1874-1951), podemos ouvir melodias com um contorno amplo, que vão do grave para o agudo rapidamente, repletas de contraste. Ouvimos aqui um instrumento tocar melodias que a voz humana é incapaz de cantar.
Edgar Varèse (1883 - 1965) contribuiu bastante para enriquecer a visão da melodia, por meio da Klangfarbenmelodie (melodia de timbres). Ao invés de escrever uma melodia a partir de sons regulares (as notas musicais), ele procurou criar um contorno melódico a partir de sons irregulares (ruídos). Sua obra Ionisation é um ótimo exemplo.
No século XX também presenciamos um desenvolvimento das habilidades da voz que poderiam ser usados para ampliar o sentido de melodia não só para sucessão de notas ou só ruídos, mas uma combinação de nota com ruído, de vocalização com texto, enfim, um novo universo foi aberto. Segue como exemplo Sequenza III, de Luciano Berio (1925-2003).
Um uso menos "radical" dos mesmos recursos ouvimos nesse arranjo de Badi Assad para Ai que Saudade D'ocê (Vital Farias) e Asa Branca (Luís Gonzaga e Humberto Teixeira), em que ela faz efeitos percussivos e vocaliza simultaneamente.
Em outras postagens vamos falar de outros elementos da música.
Muito esclarecedora a série, exemplos bem diversos, alguns chegam a ser estranhos para quem é leigo como eu. Sensacional o arranjo da Badi Assad também!
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