sábado, 28 de fevereiro de 2009

Resenha de violões: Jeff Kemp 1999

Amigo internauta,

Outro violão que conheci recentemente foi um do australiano Jeff Kemp. Com tampo de cedro e lateral e fundo de jacarandá, é construída baseado no projeto de seu conterrâneo Greg Smallmann. O tampo é extremamente fino, com uma treliça de madeira-balsa e fibra de carbono como leque harmônimo, muita massa na lateral e fundo e fundo arqueado, com o objetivo de fazer com que toda vibração sonora que passe do tampo para a lateral e o fundo seja "rebatida" para o tampo.

É um instrumento de timbre muito escuro, com notas sem tantas parciais agudas e predominância da nota-base. Tem um equilíbrio satisfatório, com leve predomínio dos extremos (grave e agudo soam mais que médios). Embora seja um som menos rico que de violões dos anos 1960, soa próximo o suficiente de um típico violão espanhol de cedro para um leigo ter dificuldade de reconhecer a diferença.

O violão tem um envelope sonoro peculiar. Ouve-se o ataque, em seguida uma espécie de "rebote" ou "eco" do ataque, uma sustentação contínua e curta, e uma queda demorada.

É um instrumento bem potente, provavelmente 8,5 numa escala de 0 a 10. Mas ele preenche muito o ambiente, soando como caixas de som com "surround system". Essa sensação de estar mergulhado por um som encorpado dá a impressão do violão ser mais potente que realmente é. O que o intérprete ouve reflete bem o que a platéia escuta.

Ele é mais fácil de tirar um bom som, porém na mão esquerda apresenta uma facilidade entre média e boa. Tem uma resposta linear, porém, como vários outros violões de cedro, a gama de timbres não é tão ampla.

O violão tem um bom acabamento, e usa goma-laca fosca no tampo.

Recomendo para quem gosta de violão escuro, potente, confiável e que exige pouco da mão direita. Repertório que se favorece das qualidades do instrumento: música espanhola; composições com melodias na região grave; peças com caráter sombrio; composições com harmonia rica e colorida, como as de Ponce.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Resenha de violões: Fernando Mazza 2008

Amigo internauta,

Recentemente tive a oportunidade de conhecer um violão desse luthier argentino, e gostaria de compartilhar minhas impressões sobre seu trabalho.

O tampo é de cedro canadense, com laterais e fundos laminados. Utiliza de técnicas de construção australianas, associadas a construtores como Simon Marty e Greg Smallman.

Embora o violão não tenha nem um ano de idade, apresenta sérios problemas. O tampo apresenta uma rachadura paralela à região da escala que fica sobre ele, quase com a mesma extensão da escala. A lâmina externa da lateral e do fundo apresenta problemas, e apresenta alguns buracos entre 0,5 cm a 1,5 cm de diâmetro. A escala empenou.

O instrumento está na Alemanha, e enfrentou condições climáticas distintas de Buenos Aires, aonde foi construído, o que pode explicar o ocorrido. Ainda assim, tantos estragos em tão pouco tempo não pode ser apenas resultado de mau-uso ou clima desfavorável.

O acabamento como um todo é muito grosseiro, e alguns detalhes que parecem cômicos, como uma pestana de metal bem tosca e um rastilho feito com muito desleixo.

Apesar de tantas falhas, ainda acho interessante falar desse instrumento porque ele é extremamente fácil de tocar, principalmente na mão esquerda. Foi um choque ver um violão que está se despedaçando por completo em tempo recorde estar entre os três mais fáceis de tocar que conheci. É o tipo de situação que nos faz perguntar como é possível luthiers muito mais talentosos não serem capazes de construir instrumentos que não tem a metade da facilidade de tocar como esse.

O violão soa como um violão de cedro normal. Tem um bom equilíbrio, com um pouco menos de parciais agudas (como diversos violões de cedro). Resposta rápida e linear. No entanto, o empeno na escala comprometeu todas as notas até a sétima posição, e exige que o intérprete toque com mais leveza ao tocar nas primeiras posições.

Tem um bom ataque, pequena sustentação, mas queda muito lenta e gradual. O formato do envelope sonoro num gráfico intensidade x tempo seria parecido ao de um triângulo retângulo.

Como o empeno na escala exige que se toque com mais leveza nas primeiras posições, só é possível ouvir bem todo o potencial do instrumento nas regiões agudas. A potência é acima da média, cerca de 8 numa escala de 0 a 10. Embora a situação em que testei não seja a mais adequada para avaliar como o instrumento soa à distância, fiquei com a impressão que a projeção está na média, e à distância ele não soe tão bem e claro. Porém, o que se ouve tocando é muito próximo do que a platéia ouve.

Recomendo esse violão para quem busca um violão extremamente fácil de tocar e de controlar o resultado sonoro final, a um preço competitivo (segundo fui informado, cerca de 4.400 reais). No entanto, a baixa durabilidade dele é preocupante, portanto acho mais seguro comprar de segunda mão um violão feito por esse artesão, ou aguardar algum tempo pra ele aprimorar sua técnica.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Formas musicais: rondó

Amigo internauta,

Continuando nossa conversa sobre formas musicais, vamos abordar outra forma simples de entender e muito presente no nosso dia-a-dia, o rondó.

A forma rondó consiste em tocar uma seção A (que também pode ser chamada de refrão), uma seção diferente (B), repetir a seção A, tocar outra seção distinta (C), repetir A, indefinidamente.

Aproveitando o clima de carnaval, seguem dois exemplos de rondó com refrão:





Na música brasileira a forma rondó é muito presente especialmente no choro, como podemos ouvir na interpretação de Odeon, composta por Ernesto Nazareth:



A seção A é repetida em 1'22" e 2'22". É um típico exemplo de rondó ABACA.

Especialmente na música com letra há um terreno duvidoso de classificação. Analisando apenas as notas musicais na sua forma mais básica, a canção é um ABA (ou mesmo apenas AB). Porém, a letra de um seções (e por vezes o arranjo) varia, enquanto outra se mantém igual. No exemplo abaixo, a seção do solo de guitarra vir entre dois refrões deixa ainda mais difícil de se classificar com precisao.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Estudando música no exterior: Alemanha

Amigo internauta,

Desde que vim estudar na Europa vários colegas têm me perguntado como fazer para estudar aqui. Vou então fazer uma pequena série falando de alguns destinos para estudar música no estrangeiro. Inicio pelo país em que estou morando, a Alemanha.

Cenário musical

Há cerca de 300 anos a Alemanha é um dos países mais importantes no mundo da música. A maior parte dos grandes compositores nasceu ou viveu nesse país, que tem algumas das melhores orquestras e eventos de ópera do mundo. Poucos locais são tão atrativos para estudar música erudita no mundo.

Cenário acadêmico

Embora seja difícil encontrar um professor picareta, é comum achar professores desmotivados, que não reciclam seus conhecimentos há muito tempo, ou pouco talentosos. Paulatinamente está havendo uma renovação dos cargos de professor nas escolas superiores de música, e há uma forte tendência de professores mais entusiasmados, atualizados e competentes ocuparem essas vagas.

Mesmo em instrumentos que os alemães não têm uma tradição forte, como no violão, lecionam nesse país alguns dos mais destacados professores do mundo.

Sistema educacional

Na Alemanha é possível estudar música numa universidade (Universität) ou escola superior de música (Musikhochschule). Nas Universitäten se ensinam apenas matérias teóricas, quase todas ligada à musicologia (Musikwissenschaft), e exigem uma alta proficiência no idioma. Quem quer tocar, reger e compor tem de estudar nas Musikhochschulen.

Nas Musikhochschulen os cursos ministrados são de formação artística (Kunstlische Ausbildung), pedagogia musical (Musikpedagögik) e mestrado (Meisterkurz). Os dois primeiros são equivalentes à graduação do sistema educacional brasileiro (bacharelado e licenciatura, respectivamente). O Meisterkurz não é reconhecido como mestrado no Brasil, apenas como curso de especialização.

Algumas escolas estão oferecendo cursos próximos do sistema educacional dos EUA, o Bachelor e o Master. Como essa mudança não tem um ano, desconheço qualquer manifestação de uma instituição no Brasil que diga se o Master é reconhecido ou não no Brasil.

Indo ao país

As vagas nas boas escolas são muito disputadas, e pode acontecer de um professor não oferecer nenhuma vaga para aluno novo num determinado ano. Além disso, diversas instituições alemãs (embaixada, consulado, fundações acadêmicas) costumam exigir uma carta do professor que você pretende estudar. Portanto, diria que o primeiro passo para estudar na Alemanha é conhecer pessoalmente o professor almejado. Fazer uma aula com ele é fundamental.

A burocracia é lenta, portanto recomendo pelo menos 10 meses de antecedência para iniciar a tradução de todos os papéis.

As duas principais instituições que fornecem bolsa de estudo são o DAAD e o KAAD. Atualmente a verba do DAAD têm diminuído bastante. Uma bolsa de estudo na Alemanha significa o depósito mensal de uma ajuda de custo numa conta bancária sua e, com frequência, um curso intensivo de alemão antes do início do curso.

Praticamente todas as escolas alemãs são do governo, mas recentemente todos os alunos têm de pagar uma semestralidade para estudar. Atualmente a semestralidade custa entre 300 a 600 euros.

A embaixada ou consulado irá pedir alguma comprovação de fonte de renda, que pode se dar por três formas: ter ganho uma bolsa de estudos, ter numa conta bancária valor superior ao recomendado (cerca de 7.500 euros, atualmente), ou documento assinado por um responsável na embaixada dizendo que ele se compromete a te custear - naturalmente, essa pessoa tem de possuir bens superiores ao mínimo exigido pela embaixada.

Vivendo no país

Há na Alemanha residências estudantis (Studentenwonheim), mas elas não tem qualquer ligação com as escolas e universidades. Para viver numa Studentenwonheim, o processo é praticamente o mesmo de alugar um apartamento por uma imobiliária. Com frequência os custos de aluguel são parecidos. No entanto, pode-se economizar em internet, telefone, lavanderia e outros.

A maior chance de conseguir uma vaga numa Studentenwonheim é em junho e julho. A partir de setembro é praticamente impossível. Alguns sites ajudam a iniciar uma busca por imóvel ainda no Brasil, como o www.immobilienscout.de .

Além de alugar um apartamento no mercado imobiliário, outra opção é buscar uma república (WG). Um site útil para encontrar vagas em repúblicas é o www.wg-gesucht.de .

Todo mundo que vive na Alemanha (incluso os alemães) precisam se registrar no escritório dos moradores (Einwohneramt). Assim que conseguir uma residência, registre-se no Einwohneramt. Sem esse documento de registro não é possível abrir conta em banco, ter conta de telefone celular, assinar contrato de internet, nem regularizar o seu visto.

É possível viver no país falando um bom inglês. No entanto, para se integrar na sociedade, ou lidar com qualquer órgão do governo, falar alemão é importante. Há várias oportunidades de estudar a língua a preços módicos ou de graça, como em cursos fornecidos por entidades estudantis ou na internet, como em www.dw-world.de .

Ficando no país permanentemente

Há diversas oportunidades para músicos estrangeiros conseguirem trabalho na Alemanha. A mais comum é ensinando crianças e adolescentes em escolas particulares.

A legislação alemã é das mais condescendentes para com o estrangeiro. Entre as leis que favorecem o imigrante a continuar no país, é permitido que todo estrangeiro possa viver mais um ano na Alemanha após sua formatura para buscar emprego. Com um contrato de trabalho, o estrangeiro passa a ter visto.

É melhor ficar no Brasil se...

O principal problema de estudar na Alemanha é o fato do diploma de mestrado não ser aceito no Brasil. Dependendo dos objetivos do músico, estudar de 3 a 5 anos para obter um diploma sem valor no meio acadêmico pode ser uma péssima escolha.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Acuma?

Amigo internauta,

A ANAC determinou que os pilotos brasileiros de voos internacionais são obrigados a ter certificação de conhecimentos de inglês a partir de cinco de março.

Tal iniciativa seria obrigatória desde o ano passado, mas a pressão das companias aéreas postergou a data.

A pergunta que não quer calar: quer dizer que hoje os pilotos voam sem saber inglês? Como são capazes de se comunicar com a torre de controle de outro país? Usam mímica?

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Técnica: estudando escalas (1)

Amigo internauta,

Vou iniciar uma série de dicas técnicas para violonistas. Começo falando de escalas.

Acho um desperdício estudar técnica apenas pra exibir habilidade manual exuberante, então todas as dicas serão mais úteis para quem crê que uma técnica sólida é importante para fazer música, mas não é o objetivo final.

Portanto, cada exercício tem por objetivo desenvolver recursos que serão úteis ao tocar uma composição musical. É como se cada dica fosse um item no bat-cinto de utilidades, pronto pra ser usado quando necessário. Procurarei deixar clara a relação entre o que será estudado e sua utilidade ou importância ao tocar música.

Esse primeiro exercício de escalas visa promover uma sonoridade limpa e uma melhor coordenação entre as mãos. Uma boa coordenação entre as mãos é fundamental para conseguir diversos resultados musicais, entre eles o controle da articulação e um bom legato.

Escolha qualquer escala de sua preferência. Para esse exercício, é melhor que sejam empregadas escalas que utilizam o mínimo de cordas soltas possível. Talvez seja prudente começar por escalas na mesma posição para depois estudar escalas que usam saltos, aberturas e contrações, mas ele pode ser feito com qualquer escala.

Todas as notas serão tocadas em staccato curto. Cada dedo na mão esquerda tem de apertar a corda cerca de 1 mm à esquerda do traste, sem tensão ou esforço extra ( leia mais nesse link ). Pressione a corda lentamente. Assim que a corda encostar no traste, dedilhe com a mão direita e relaxe a musculatura das duas mãos. Para garantir que você está relaxando de verdade, no começo é válido fazer um "rebote" nas duas mãos. Nesse "rebote", tanto o dedo da mão esquerda quanto da direita encostam de novo na corda, sem pressioná-la ou dedilhá-la.

Faça esse exercício lentamente - no máximo uma nota por batida a 60 bpm. O objetivo desse estudo é coordenação e limpeza, não velocidade. Mais à frente vamos falar de exercícios para tocar escalas rápidas, mas primeiro vamos tocar com coordenação perfeita e limpeza absoluta.

Pro exercício servir ao seu propósito, observe atentamente se a mão direita dedilha exatamente no momento em que a corda encosta no traste, nem antes nem depois, e se a mão esquerda aperta a corda cerca de 1mm à esquerda do traste.

Comece estudando sempre com o mesmo dedo na mão direita, tocando uma vez toda a escala com p, depois toda a escala com i, toda a escala com m, toda a escala com a e, se você quiser desenvolver o mindinho da mão direita (chamado de c, de chiquito), toque toda a escala com este dedo. Como a escala será tocada lentamente, e os dedos relaxam por completo após o ataque, não há problema em repetir o dedo.

Caso você esteja estudando uma escala com saltos na mão esquerda, primeiro faça o "rebote" para depois efetuar o salto. Ou seja, primeiro relaxe totalmente a musculatura, para só depois saltar.

Bons estudos, amigo internauta!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Sobre o caso da brasileira supostamente atacada na Suíça

Amigo internauta,

Desde a semana passada a comunidade brasileira que vive na Europa (em especial na Suíça, Áustria e Alemanha) têm acompanhado com apreensão o caso da brasileira supostamente atacada por neonazistas.

Nesse blog escrevi sobre casos de brasileiros que têm sofrido agressões e abusos de poder de autoridades estrangeiras, como no caso do violonista e compositor Guinga, que aos 60 anos tomou um murro provavelmente dado por um policial espanhol tão forte que o fez perder dois dentes. Relatos sobre outros maus-tratos na Espanha são diários, e até na Bolívia se vêm verificando um preconceito ostensivo contra brasileiros.

Em todos os casos citados acima, a "atuação" do Itamaraty tem sido pífia.

Seja por uma pressão para que o Ministério das Relações Exteriores realmente proteja os cidadãos brasileiros no exterior, seja porque o pai da garota em questão trabalho no gabinete de um deputado, pela primeira vez vemos o Itamaraty fazer alguma coisa.

Não podia ter havido momento pior.

A julgar pelas recentes informações, tudo não passaria de invenção da jovem. O advogado dela tem dito à imprensa que ela possuiria uma doença física que pode causar alucinações.

O provável desfecho se mostra o pior possível para os brasileiros que vivem no exterior. Tememos que o Itamaraty volte a ter um nível de descaso grotesco para com atos que atentem contra seus cidadãos no estrangeiro, que a imprensa nacional deixe de noticiar agressões e abusos de autoridade no exterior, que nos países de língua alemã os brasileiros tenham uma imagem negativa, e que simpatizantes da ideologia de extrema-direita (entre eles neonazistas) passem a nos ver como um alvo preferencial.

Esperamos que o pior não se concretize. A intervenção do MRE foi positiva, e queremos que ele intervenha sempre que ocorrer casos semelhantes. A atuação da imprensa também é muito importante.

O que importa, amigo internauta, não é o desfecho de um caso particular, mas que o governo proteja seus cidadãos no exterior e se envolva ativamente na promoção da segurança e bem-estar dos brasileiros no estrangeiro.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Resenha de violões: Jorge Raphael 2008

Amigo internauta,

Para contribuir com informações sobre instrumentos, vou fazer algumas resenhas de violões. Inicio por um dos violões que utilizo, feito pelo artesão Jorge Raphael em 2008.

O instrumento é feito com abeto alemão envelhecido no tampo e jacarandá-da-Bahia na lateral e fundo. Utiliza elementos do projeto Millenium (desenvolvido pelo estadosunidense Thomas Humphrey), como escala elevada em diagonal. O leque harmônico foi desenvolvido pelo Jorge.

O timbre geral do instrumento apresenta um bom balanço entre as frequências, com um pouco mais de médio e agudo. Todo o instrumento é muito claro, e os graves são bem presentes. Com as cordas adequadas, ficam bem encorpados. Uma das "assinaturas" do Jorge Raphael é produzir violões muito equilibrados.

Possui um envelope sonoro bem equilibrado, com um ataque claro, boa sustentação e queda suave. A resposta é rápida e ágil.

A potência do instrumento é bem acima da média, e é um dos mais potentes feitos no Brasil. Numa escala de 0 a 10, estaria no 7,5. Essa intensidade se mantém bem à distância, e o instrumento é possível de ser ouvido com muita clareza e boa separação das notas. Quem toca tem uma impressão do violão soar mais fraco e menos encorpado que quem ouve à sua frente.

Tem afinação precisa, e é bem confortável pra tocar. A escala elevada em diagonal permite um maior conforto pra mão esquerda, especialmente nas regiões agudas, sem criar problemas pra mão direita, e é possível tocá-lo bem forte sem estourar as notas.

Outra "assinatura" do Jorge é fazer violões com resposta linear quase perfeita. Estímulos feitos pra mudar a dinâmica, o timbre e outros numa região (por exemplo, do piano pro mezzoforte) são muito semelhantes aos que verifica-se em outras (por exemplo, do mezzoforte pro forte).

O instrumento é feito 100% em goma-laca brilhante. Como o Jorge é dos luthiers que melhor aplicam goma-laca no Brasil, olhando com desatenção nem parece goma-laca, mas outro tipo de verniz. As laterais, o fundo e a mão utilizam peças de jacarandá-da-Bahia com cor mesclada, e a diferença entre a tonalidade marrom-clara e o marrom-escuro próximo do preto dá um charme especial ao acabamento. A meu pedido, o violão veio acompanhado de tarrachas feitas à mão por Jorg Graf ( http://www.graftuners.com/ ).

Recomendo esse tipo de violão para quem busca um violão amigável de se tocar, muito equilibrado, e que combina uma bela sonoridade com boa potência e projeção. Entre o repertório que se favorece nesse instrumento, cito composições ágeis como sonatas de Scarlatti; peças polifônicas, como composições de Bach; músicas que exigem farto uso de articulação, como Sor, Giuliani e música brasileira; e composições que exigem do instrumentista grande virtuosismo e grandiosidade, como os estudos de Villa-Lobos.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Projeto de Cristovam Buarque (PDT-DF) obriga filhos de políticos a estudarem em escolas públicas

Amigo internauta,

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que foi candidato à presidência da república nas últimas eleições, apresentou um projeto de lei que obriga os filhos de ocupantes de cargos públicos eleitos pelo voto a estudarem em escola pública.

No projeto se lê que "o presente Projeto de Lei permitirá que se alcance, entre outros, os seguintes objetivos: a) ético: comprometerá o representante do povo com a escola que atende ao povo; b) político: certamente provocará um maior interesse das autoridades para com a educação pública com a conseqüente melhoria da qualidade dessas escolas; c) financeiro: evitará a “evasão legal” de mais de 12 milhões de reais por mês, o que aumentaria a disponibilidade de recursos fiscais à disposição do setor público, inclusive para a educação; d) estratégica: os governantes sentirão diretamente a urgência de, em sete anos, desenvolver a qualidade da educação pública no Brasil."

Saiba mais sobre o projeto de lei em http://www.senado.gov.br/sf/atividade/Materia/detalhes.asp?p_cod_mate=82166

Mande sua mensagem para os senadores pedindo a aprovação da matéria enviando e-mail para a lista de endereços em http://www.senado.gov.br/sf/senadores/senadores_atual.asp?o=1&u=*&p=* ou telefonando para 0800 61 22 11 (ligação gratuita).

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Formas musicais: A-B-A

Amigo internauta,

Encerrando as postagens sobre elementos de uma composição musical, vamos nos voltar a um destes elementos que, de tão importante, merece um título próprio: a forma.

Como comentamos na primeira postagem com esse tema ( link ), a música é uma linguagem cuja comunicação se dá pela relação entre os elementos desse "idioma", não por uma relação destes com um objeto ou uma ideia, ao contrário de outras linguagens. Entre os elementos que organizam a relação entre o sons, a forma ocupa um papel de destaque. Nas próximas mensagens, vou escrever um pouco sobre as formas musicais que mais permeam nosso cotidiano.

A forma A-B-A é a mais comum e simples de entender. Toca-se uma seção (que chamaremos de A), em seguida outra seção diferente (que chamaremos de B) e repete-se a primeira.

Um exemplo seria a canção Samba de uma Nota Só, de Tom Jobim:


A seção A é a que a melodia utiliza sempre a mesma nota, a seção B a que a melodia emprega escalas (se inicia nos versos "quanta gente existe por aí..."). Como a canção é muito curta, com apenas um minuto, é comum repetí-la.

Ainda que uma composição utilize de uma introdução (um trecho curto para "criar o clima" da música), se emprega uma seção A, outra diferente (B), e retorna à primeira seção (sem repetir a introdução, naturalmente), ainda é um A-B-A. Um exemplo seria a canção Iron Man, da banda Black Sabbath:


A introdução segue até cerca de 0'35", a seção B se inicia em 3'15" e a seção A é repetida em 3'45".

Assim como uma composição pode ter uma introdução pra criar um clima no início, ela pode também vir acompanhada de uma coda, que tem uma função similar à da introdução, porém vem ao final da música. Como ouviremos, a canção Pretty Woman apresenta todos esses elementos.



A introdução segue até 0'12", a seção B se inicia em 01'12", a seção A retorna em 1'50" e a coda começa em 2'20". Uma peculiaridade dessa canção é que a coda é praticamente idêntica à introdução, o que permite repetí-la várias vezes.

Outros exemplos de A-B-A:

Take a Chance on Me, ABBA (a canção é repetida)


Polícia, Titãs (antes da repetição da canção, tem um solinho)


Delicado, de Waldyr Azevedo (introdução de dez segundos, pequena coda ao final)


Uma peculiaridade da forma ABA é que ela é imprópria pra escrever composições longas. Pelos exemplos acima você deve ter notado, amigo internauta, que com frequência é preciso recorrer à repetição pra música não soar muito curta. Por outro lado, permite dar unidade a uma composição com trechos contrastantes sem muita dificuldade para o compositor.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Garoto e sua relação com Carmen Miranda

Amigo internauta,

O blog Sovaco de Cobra publicou recentemente um artigo tratando da relação do violonista Aníbal Augusto Sardinha (mais conhecido como Garoto) com Carmen Miranda.

O artigo é muito bem-escrito e traz informações novas e interessantes. O endereço para lê-lo é http://sovacodecobra.uol.com.br/2009/02/carmen-miranda-e-garoto/

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Caracas agora é capital da Chavezuela

Amigo internauta,

Agora é oficial: a Venezuela pertence a Hugo Chavez. Um outro nome para o país cairia melhor: Monarquia Bolivariana da Chavezuela. Ou, considerando o domínio que essa nação exerce sobre Equador, Bolívia e outros vizinhos, talvez todo o grupo poderia constituir o Reino-Unido Bolivariano da Chavezuela.

Embora Hugo Chavez procure se associar a líderes da esquerda, como Fidel Castro, sua trajetória é quase uma refilmagem de ditadores de extrema direita. Como Adolf Hitler, tentou chegar ao poder primeiro por um golpe de estado, que fracassou, e depois o tentou pelos meios legais. Como Mussolini, sua figura foi adorada pelo povo e por nações vizinhas. Como Pinochet, mudou a legislação do seu país para beneficiá-lo. A única diferença que vejo entre ele e Hitler é que Chavez não escreveu um livro nos dois dias em que esteve preso.

Ao contrário do que Chavez e seus simpatizantes dizem, democracia não é a ditadura da maioria, tão pouco seguir decisões de referendos e eleições mil. Democracia é dar voz, representação política e poder a TODOS os grupos da sociedade, e fazer com que a sociedade crie pactos entre si. É fazer com que as decisões do país sejam razoáveis para todos, mesmo que não agradem plenamente a alguns.

Não é isso que se vê na Chavezuela. Há o grupo dos "con Chavez" e o resto. Todos esses referendos e eleições só ouvem um lado, e servem apenas pra dividir o país. Está pior que Corinthians e Palmeiras em final de campeonato.

O referendo de ontem também mostra que a "democracia bolivariana" é uma falácia. Há pouco tempo foi reprovado pela população um pacote de medidas que incluía a reeleição ilimitada. Chavez "reconheceu" a derrota criando outro referendo propondo só a reeleição ilimitada. Penso que, mesmo se o "Não" ganhasse, Chavez novamente iria mandar outro referendo. Como o governo dele só acaba em 2012, é tempo mais que suficiente pra insistir no tema até ganhar.

O que mais me surpreende é que ele encontra apoio em grupos brasileiros que, se vivessem sob a égide do bolivarianismo, não teriam a liberdade e o poder para combater o governo que desfrutam no Brasil.

Fiquemos atentos, pois. Pro momento, atualizemos os mapas. Caracas é capital da Chavezuela.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Como avaliar um violão

Amigo internauta,

Para auxiliá-lo a comprar um violão adequado pra você, seguem algumas dicas do que olhar e avaliar num instrumento:

- construção
Que madeiras são utilizadas? São maciças?
Que técnica de construção é utlizada?

- sonoridade
Como é o timbre do violão? Tem predominância de graves, médios ou agudos?
E o equilíbrio? Notas em cordas e posições distintas soam parecidas?

- corpo sonoro
Como soa o ataque das notas? E a sustentação? E a queda?

- volume
Como é a potência do violão de perto? E de longe? Dá pra ouvir bem as ideias musicais mesmo à distância?
O que você ouve tocando se parece com o que uma pessoa sentada à sua frente ouve? Quanto?

O violão é afinado?
É confortável pras suas mãos e seu corpo tocá-lo?
Estímulos feitos pra mudar a dinâmica, o timbre e outros numa região (por exemplo, do piano pro mezzoforte) são semelhantes aos de outras (por exemplo, do mezzoforte pro forte)?
Como é a aparência do violão?
Ele vem acompanhado de outros itens, como boas tarrachas ou um case leve, resistente e fácil de carregar?

Espero que essas perguntas te auxiliem a comprar seu tão sonhado violão, amigo internauta.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Um concerto inesquecível

Amigo internauta,

Ontem tive a oportunidade de ouvir um concerto fantástico com a Real Orquesta Sinfónica de Sevilla, regida por Pedro Hallfter, e como solistas Pepe Romero e o quarteto de violões Los Romeros. No programa, El Sombrero de Tres Picos (Manuel de Falla), Concierto de Aranjuez e Concierto Andaluz (Joaquin Rodrigo), Rhapsodie Espagnole e Bolero (Maurice Ravel)

Los Romeros foi o primeiro quarteto de violões que surgiu, e hoje comemora 50 anos de existência. Fundado por Celedonio Romero e seus filhos Pepe, Angel e Celín, o grupo teve formações distintas, sempre com membros da família Romero. Pra minha surpresa, a formação de ontem era com os três filhos da primeira formação (o patriarca, Celedonio, faleceu há cerca de 20 anos), pois Pepe Romero saiu o grupo há bastante tempo.

A Real Orquesta Sinfónica de Sevilla é fantástica. Fiquei impressionadíssimo. Já tive a oportunidade de ouvir outras grandes orquestras, como a Berliner Filarmoniker, e essa orquestra está pelo menos no mesmo nível. No Sombrero de Tres Picos (o chapéu com três pontas) uma articulação precisa dos naipes e uma variação muito contrastante de dinâmica proporcionaram uma performance fantástica. A sonoridade encorpada, bem balanceada e homogênea do grupo abrilhantou as peças de Ravel.

No primeiro concerto da noite, Pepe Romero solou o Aranjuez sem amplificação para uma platéia de aproximadamente seis mil pessoas. Estava sentado a cerca de cinquenta metros do palco, e ainda assim ouvi muito bem. Naturalmente, a acústica da sala, o comportamento do público e não ter usado toda a orquestra no palco colaboraram, o que não tira o mérito da sonoridade desse grande violonista. A bela interpretação desse concerto encantou a platéia o suficiente para chamá-lo ao palco três vezes.

O Concerto Andaluz foi escrito para Los Romeros, que o tocaram com homogeneidade, precisão e um vigor que poucos grupos musicais têm. Sinto-me um privilegiado de ter tido a oportunidade de escutar essa composição tocada tão bem por músicos que admiro desde que comecei a me encantar pelo violão. A música respirava e se movia com uma elegância e força interior marcante.

De bis, Los Romeros tocaram uma composição de Celedonio Romero, Malagueña, que foi a primeira obra escrita para eles.

Sem dúvida, esse foi um dos melhores concertos que assisti na minha vida. Um bom programa, com um bom regente, uma orquestra de primeiro time e solistas de alta qualidade.

Los Romeros: http://www.romeroguitarquartet.com
Real Orquesta Sinfónica de Sevilla: http://www.rossevilla.com
Pedro Hallfter: http://www.pedrohalffter.com

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

À procura de um professor de violão? A gente te ajuda!

Amigo internauta,

Nesse começo de ano, acredito que alguns de vocês estejam pensando em procurar um professor de violão.

Pensando em auxiliar nessa busca, criei uma lista com professores de violão erudito em todo o país.

O endereço é www.alvarohenrique.com/professores.pdf

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Elementos de uma composição musical (6)

Amigo internauta,

Na nossa última conversa sobre música falamos um pouco do motivo, que seria um elemento rítmico e melódico pequeno utilizado para dar forma a uma composição. Fizemos uma analogia do motivo com uma peça de lego.

Outro elemento que pode dar unidade a toda uma composição é o tema. Tema é uma melodia com começo e fim, utilizada ao longo de uma mesma música, com algum tipo de diferenciação.

Embora haja uma forma musical chamada "tema com variações" (grosso modo, mostrar um tema e repetí-lo sempre de uma forma diferente), há várias outras formas de um tema ser o fio condutor de uma composição.

Como exemplo, vamos ouvir o segundo movimento do Concierto de Aranjuez, composto por Joaquín Rodrigo (1901-1999).



O tema é apresentado primeiramente pelo corne inglês (cerca de 0'30"). Em seguida, o violão toca uma versão ornamentada do tema - aonde se ouvia uma nota longa, agora são incluídas notas rápidas, escalas, etc. O corne inglês mais uma vez toca uma melodia baseada no tema e o violão a repete, com ornamentações.

Ao longo de toda a audição, você perceberá que praticamente o tempo todo é tocado, parcial ou integralmente, o tema inicial, seja na forma mais simples ou na ornamentada.

Um trecho fácil de perceber isso é no trecho em que o violão toca sozinho (se inicia em 4'40").

No nosso dia-a-dia, ouvimos músicas construídas a partir de temas principalmente ao ver filmes. Apesar dos disfarces, a trilha sonora que Bernard Hermann escreveu para o filme Psicose (Psycho) é baseada no mesmo tema.



Uma das coisas que considero mais divertidas ao ver os filmes do 007 é exatamente como eles trabalham um tema famoso e conhecido sempre com frescor. Seguem alguns exemplos.







Pra encerrar, um pequeno exemplo de um tema com variações. Mais a frente vamos falar melhor do que seria um tema com variações. Por enquanto, procure apenas perceber que a mesma melodia está sendo repetida, sempre com alguma diferenciação.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Róquinrou

Amigo internauta,

Recentemente encontrei vídeos de uma banda chamada Sambô. Com uma voz impecável, e um acompanhamento brasileiríssimo, algumas releituras dessa banda são surpreendentes.

Famosa na voz de Janis Joplin, uma Mercedes Benz parente do Gurgelzinho:



Uma canção do Led Zeppelin que é um dos hinos do rock, com outra cara:

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Toque violão com som limpo e sem esforço

Amigo internauta,

O violão é rico de detalhes que fazem diferença. Talvez por ser um dos poucos instrumentos em que o som é produzido usando os dedos das duas mãos, o fato é que pequenas variações no que os dedos fazem geram sonoridades distintas.

Para garantir um som limpo, sem ruídos de trastejo, é preciso ter cuidado com a pontaria e a força dos dedos da mão esquerda.

Ao contrário do que muitos pensam, não basta acertar o dedo dentro de uma casa do violão pra sair um bom som. É preciso ter uma pontaria tão precisa quanto a de um instrumento sem trastes, como o violino. E o ponto que nosso dedo deve atingir é cerca de 1mm à esquerda de cada traste.

Caso o dedo aperte a corda exatamente em cima do traste, sai um som abafado. Se apertar a mais de 1mm, é preciso empregar uma tensão extra, desnecessária.

Essa tensão desnecessária é uma das principais fontes de lesões que podem forçar uma pessoa a ter de abandonar o instrumento pro resto da vida, mesmo como amador, e pode comprometer pra sempre o movimento dos dedos em outras atividades cotidianas, como manejar talheres.

Pra evitar esse problema, um exercício muito simples ajuda bastante a calibrar a força necessária. Faça-o lentamente. Recomendo algo em torno de uma nota por segundo (60 bpm) no máximo. E, claro, aperte a corda cerca de 1mm à esquerda do traste.

O exercício consiste em tocar uma escala cromática, com um dedo em cada casa, tocando 1-2-3-4. Na primeira vez toque toda a escala, com cada dedo apenas encostando na corda, sem movê-la um só milímetro. O som sairá abafado.

Em seguida, toque toda a escala, com cada dedo apertando a corda, mas movendo-a muito pouco, sem encostar no traste. O som sairá abafado.

A terceira etapa é fundamental. Agora cada dedo aperta a corda só o suficiente para ela encostar muito de leve no traste. O som sairá trastejado, repleto de ruído. Seja rigoroso pra que todas as notas sejam tocadas assim.

Em seguida, faça o mesmo exercício, usando só um pouquinho de nada de força a mais, e todas as notas sairão limpas, sem tensão desnecessária e sem esforço.

Recomendo fazer esse exercício como aquecimento por pelo menos um ano, sempre lentamente (no máximo uma nota por segundo).

Se em alguma música você sente que está tocando com força demasiada, amigo internauta, pode fazer esse exercício nesse trecho ou na música, não apenas a escala cromática.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Uma orquestra com políticos toca em Caxias do Sul

Amigo internauta,

Veja só que curioso:

Orquestra dos Prefeitos da Áustria se apresenta em Caxias dia 10

No próximo dia 10 de fevereiro se apresentará a Orquestra dos Prefeitos da Áustria. O espetáculo ocorre no Teatro Pedro Parenti a partir das 20h30. A entrada custa R$ 10.

A Bürgermeisterkapelle ou Orquestra dos Prefeitos da Áustria é formada por 45 músicos, todos eles Prefeitos, Vice-Prefeitos e Vereadores da região do Tirol, na Áustria. A orquestra tem a regência do Maestro Karl Mark, Governador da província de Schwaz, na Áustria.

Após a apresentação, às 22h, será servido um churrasco típico gaúcho no Galpão Crioulo da UCS a R$ 45.


Uma orquestra só de políticos? Foi uma boa ideia pra escapar de vaias. Ainda assim, recomendo que a plateia deixe o relógio em casa.

Ah, a churrascaria já confirmou que aceita cartão corporativo.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Planejando o estudo

Amigo internauta,

Músico tem de estudar muito. E sem cessar. Atribuí-se a vários virtuoses a mesma frase: "se eu parar de estudar um dia, eu noto a diferença; se parar de estudar dois dias, os críticos sentem a diferença; se parar de estudar três dias, o público ouve a diferença."

Como tocar um instrumento é uma habilidade, não o mero acúmulo de informação, e a chance de falhas na execução dessa habilidade é sempre alta, o músico convive com o estudo mais que com sua própria sombra. O apreço pelo estudo, portanto, é uma das principais características que diferenciam o músico profissional das pessoas que apenas gostam de tocar um instrumento.

Apesar dos músicos gostarem tanto de estudar, muitas vezes eles estudam errado, e não progridem de acordo com seus esforços. Uma das falhas mais comum é estudar o que já é sabido.

A principal função do estudo é adquirir informação / habilidade nova e consolidar conhecimento / habilidade recêm-adquirida. Na ânsia de consolidade algo novo, e sem muita ideia do que deve ser adquirido em seguida, com frequência o instrumentista se vê andando em círculos, estudando o que já foi estudado à exaustão.

Pra evitar essa perda de tempo, sugiro fazer um "autorretrato" dos seus conhecimentos.

Inicie escrevendo todas as habilidades e informações que você gostaria de ter. Por exemplo, "leitura à primeira vista", "improviso", "domínio de harmonia", "habilidades de composição", "vida e obra dos principais músicos da minha área", etc.

Em seguida, escreva o que você já fez pra dominar aquela habilidade, e quais seriam os próximos passos caso você queira se aprofundar ainda mais. Por exemplo, você pode escrever em "domínio de harmonia" que acabou de ler um livro sobre o tema, e que um próximo passo seria tocar com um amigo que sabe desse assunto mais que você, ou procurar um professor.

Após escrever essa lista, determine quão perto você está do máximo que você prentede dominar aquela habilidade. Escreva 0% para temas que você não domina, e 100% para temas que você já sabe tudo o que você gostaria, independente de quanto isso significa. Por exemplo, um músico pode considerar o que ele sabe de improviso, mesmo sendo pouco, tudo o que ele tem interesse em saber, então marcaria 100%. Já outro, mesmo dominando bem essa habilidade, têm ambições maiores, e pode marcar apenas 60%.

Ao final, é provável que as porcentagens atribuídas tenham números díspares. Caso isso ocorra, planeje seus estudos procurando equilibrar esses números, de forma a promover que seus "pontos fracos" tenham o mesmo nível de excelência dos seus "pontos fortes". Isso pode requerer mudar o tempo que você estuda cada tarefa ou buscar novas fontes de (in)formação (professores, livros, conviver com outros músicos, etc.).

Recomendo que, tanto para fazer esse "autorretrato", quanto para guiar todos seus estudos e sua vida profissional, você converse com um músico mais experiente. Embora muitos jovens possam se sentir tímidos, intimidados, ou achar que não vão receber a devida atenção, vários músicos têm prazer em dividir seu conhecimento e orientar outra pessoa de maneira informal - para muitos, é uma forma de reforçar o que já sabem e relembrar o entusiasmo que tinham no passado.

Faça esse mesmo exercício de tempos em tempos, amigo internauta. Aconselho que você mantenha um diário de estudos e escreva nele esse "autorretrato" em intervalos fixos.

Espero que essa forma de autoavaliação e autoconhecimento possa contribuir para você progredir de forma mais intensa nos seus estudos, e que você possa atingir mais rapidamente o que almeja.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Acabou a ditadura? Tem certeza?

Amigo internauta,

Nesse Brasil acontecem coisas que me fazem perguntar se realmente acabou a ditadura.

Na última segunda-feira José Sarney foi eleito presidente do Senado e, por consequência, do Congresso Nacional.

Sarney foi um dos políticos que sustentou, apoiou e usufruiu da ditadura. Foi presidente da Arena, o partido da ditadura, em 1979.

Como é possível que, cerca de 20 anos após o fim da ditadura, tantos políticos ligados àquele regime continuem ocupando posições de poder?

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Elementos de uma composição musical (5)

Amigo internauta,

Vamos falar agora de alguns elementos que definem a estrutura de uma composição musical. Um deles é o motivo.

Imagine um daqueles brinquedos com peças de montar (como o Lego). Em todos esses brinquedos há um número pequeno e limitado de peças que encaixam entre si e, baseado nessas peças e nas possibilidades de encaixe, montamos os mais diversos objetos.

Explicando de uma forma simples, um motivo musical é, pra uma composição musical, o equivalente a essa peça de Lego. Um elemento pequeno que pode ser combinado e montado de diversas formas e une toda a composição.

Vamos ouvir um exemplo em que podemos observar isso. No primeiro movimento da quinta sinfonia de Ludwig van Beethoven (1770-1827) ele enuncia o motivo principal logo nas quatro primeiras notas.

Preste atenção durante a escuta: ele apresenta o motivo, o repete com outras notas, e em seguida constrói toda a música com esse elemento.



De 0'43" a 1'25" a melodia é construída usando esse motivo incessantemente. A partir desse trecho, o motivo passa a ser utilizado principalmente no acompanhamento. Enquanto os violinos tocam a melodia, os instrumentos de sopro tocam o motivo ao fundo. Ao longo de todo esse movimento ouvimos o motivo principal (ou elaborações a partir dele) o tempo inteira, seja na melodia ou no acompanhamento.

O fantástico nessa música, e um dos motivos de Beethoven ser considerado o maior gênio da composição, é o quanto ele conseguiu fazer explorando incessantemente um motivo tão simples. E o mesmo motivo está presente também nos outros movimentos da mesma sinfonia. Um trecho fácil de perceber é nas primeiras notas que os metais tocam no terceiro movimento (0'23"):



Algo similar ouvimos no primeiro movimento do Concerto Brandenburgo no 3, de Johann Sebastian Bach (1685-1750). Um dos principais motivos da peça são as três notas iniciais - outra ideia simples: tocar uma nota, descer uma e voltar pra inicial.



Ao contrário do que alguns possam imaginar, encontramos composições com motivos em toda a música ocidental, não só na música erudita ou na instrumental. Na canção Insensatez, de Tom Jobim, o motivo principal é enunciado na segunda e na terceira nota (equivalente às sílabas in- e sen- da palavra insensatez). Perceba que tanto o ritmo como a organização das notas nesse motivo estão em toda a canção.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Anna Stella Schic, pianista, nos deixa

Amigo internauta,

A pianista brasileira Anna Stella Schic infelizmente não está mais entre nós. Ontem ela faleceu em Paris, onde vivia desde os anos 1970.

Schic divulgou a obra de diversos compositores brasileiros e modernos. Entre os destaques da sua carreira, citamos ela ter sido a primeira pianista a gravar uma integral da obra pra piano de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), bem como audições de compositores de vanguarda no Brasil, como Pierre Boulez.

Abaixo podemos ouvir um pouco da obra que essa pianista nos deixou.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Encordoamentos para violão

Amigo internauta,

Como escrevi no tópico em que comento o equipamento que uso pra tocar, estou sempre testando diversos encordoamentos, pois ainda não encontrei um que me satisfizesse plenamente. Gostaria de compartilhar com vocês minha opinião sobre as cordas que utilizei.

A Augustine foi a primeira corda de nylon no mercado, criada nos anos 1940. Dizem que Segovia, em NY, reclamou que a II Guerra Mundial estava comprometendo a produção de cordas para violão e que ele se preocupava com o dia em que pararia de tocar por falta de cordas. Albert Augustine então criou as cordas de nylon, que se provaram tão melhores que as de tripa de carneiro (as que eram usadas até então), que as substituíram totalmente em poucos anos.

A empresa produz três tipos de primas (classic, imperial e regals, da menor pra maior tensão) e três tipos de baixos (black, red e blue, também em ordem crescente de tensão), que podem ser combinados em nove produtos distintos. Por exemplo, a ilustração acima é de um jogo com primas classic e baixos blue.

Uma coisa bacana da Augustine é essa possibilidade de usar primas numa tensão e baixos em outra. Como são de materiais distintos, e sobre eles recaem papéis diferentes (por exemplo, as primas tocam mais melodias que os baixos), isso é um qualidade positiva dos encordoamentos dessa marca.

As primas da Augustine têm um som gordo, com poucos harmônicos agudos. As classic são muito fáceis de fazer vibrato, e lembram a sonoridade de gravações nos tempos do disco de vinil. As regals são mais agressivas, com um ataque forte se comparado com a sustentação da nota. As imperial são um meio-termo entre esses extremos.

O maior problema das primas da Augustine é a falta de constância. Aparentemente, o controle de qualidade da empresa é falho, e é comum comprar cordas com defeitos graves, como soar desafinadas. Há suspeitas de falsificação nas cordas que chegam às lojas, também.

Os baixos também têm um som gordo, com poucos harmônicos agudos. Os blue, de maior tensão, têm maior sustentação e um pouco mais de brilho. Os black, de menor tensão, soam quase como se a boca do violão fosse abafada.

A ausência de brilho nesses baixos mesmo quando novos me incomoda. Acho uma boa opção para trocar a corda e tocar em público logo em seguida, pois em dois ou três dias de uso a perda de brilho que o uso naturalmente provoca faz com que esses baixos soem, aos meus ouvidos, apagados. Como prefiro subir num palco com o mínimo de surpresas possível, não me agrada a ideia de tocar em público com uma corda com poucos minutos de uso.

A Aquila desenvolveu uma corda que eles chamam de nylgut. É um material sintético, próximo do nylon, que busca produzir uma sonoridade similar à das cordas de tripa. Só as primas usam nylgut.

Foi uma das maiores decepções nos meus testes com cordas. As primas nylgut, ao menos as brancas que testei, são ásperas. Em função da aspereza, gastam muito as unhas e todas as notas soam com um ruído insuportável. Ao invés das notas soarem tuuuuuuuuummmm, soam ffffffffffffffffffffffuuummm.

A D'Addario tem três modelos diferentes de cordas de nylon, cada uma em tensões diferentes. O de melhor qualidade se chama Pro Arté.

Durante muitos anos essa foi a minha corda preferida. A melhor qualidade da D'Addario está na afinação. Nos outros quesitos, é uma corda boa, sem grandes destaques. Digamos que na afinação ela é nota 10, e nas demais características 7 ou 8.

Em função disso, essa é uma corda "neutra", que mostra bem o som do violão propriamente dito, o que pode ser uma qualidade ou um defeito, dependendo do ponto de vista. Com frequência nós violonistas escolhemos cordas que compensem algum ponto fraco do instrumento. Por exemplo, usa-se uma corda com muito brilho num violão escuro. Com a D'Addario não dá pra fazer esse tipo de coisa.

A D'Addario vêm lançando no mercado várias cordas diferentes com o padrão de qualidade Pro Arté. Dessas, a que testei foi a composites lightly polished. Elas vêm com baixos polidos, que produzem menos ruído, e uma terceira corda extra, feita de carbono e em cor marrom.

Minha experiência não foi positiva com essas cordas. A terceira corda de carbono tem um ruído de ataque muito presente, e a cada nota que tocava nessa corda parecia que tinha um tambor dentro do meu violão. Nas três vezes que testei essas cordas os baixos tinham cor de ferrugem mesmo dentro da embalagem lacrada.

A Galli lançou no mercado primas com um novo tipo de nylon que está sendo chamado de titanium. Tive uma surpresa agradabilíssima com essas cordas. Ela tem um equilíbrio e uma resposta surpreendentes, com mais brilho e projeção. É uma corda bem próxima do meu ideal.

O problema é que esse nylon utilizado requer muito mais cuidado com as unhas. Se as unhas não estiverem tão polidas quanto o vidro, elas arranham a corda e em poucos minutos o som fica terrível. Se as unhas estiverem impecáveis, as primas têm uma durabilidade surpreendente.

As primeiras primas de carbono que usei foram essas da Hannabach. São cordas com maior projeção, e dá a impressão que o violão é mais forte. Porém, são estridentes demais, e na mão de certos violonistas soam agressivas. Vibratos são quase impossiveis de serem feitos, e ligados exigem maior esforço.

Como comentei anteriormente, estou usando baixos Hannabach 728 low tension no momento. São baixos muito profundos, com maior riqueza tímbrica, e boa sustentação. O único problema é a durabilidade pequena. No Brasil elas também são mais caras que outras marcas, então não é uma corda que poderia usar sempre.

A primeira corda feita pela Savarez que testei foi a série tradicional com primas retificadas. É uma corda terrível, talvez a pior que já toquei em toda minha vida. Os baixos duram pouco, e as primas são muito ásperas. O som sai com mais ruído que na Aquila nylgut, e gasta mais a unha. É a única corda que testei em toda a minha vida que não recomendo pra absolutamente ninguém que toca violão solo.

Em seguida, testei a Cristal Soliste. É uma corda bacana, com muitas semelhanças com a Augustine, porém com um controle de qualidade bem mais rigoroso.

O único inconveniente dessa corda é o custo. Ela está entre as mais caras nas lojas brasileiras, e na internet é difícil encontrar à venda alguma por um preço competitivo.

Estou usando no momento primas Alliance, que também são feitas de carbono. Ao contrário das que testei anteriormente, essas primas têm maior sustentação, maior projeção, ainda permitem vibrato, o ligado não exige tanto esforço extra, e não soam estridentes, apenas com mais brilho.

Reiterando o que escrevi no tópico anterior, amigo internauta, isso é minha opinião, e reflete o som que gosto. Músicos com outro ideal sonoro provavelmente pensará de forma diferente. Espero que essas informações sirvam para auxiliá-lo na sua busca.