domingo, 1 de fevereiro de 2009

Encordoamentos para violão

Amigo internauta,

Como escrevi no tópico em que comento o equipamento que uso pra tocar, estou sempre testando diversos encordoamentos, pois ainda não encontrei um que me satisfizesse plenamente. Gostaria de compartilhar com vocês minha opinião sobre as cordas que utilizei.

A Augustine foi a primeira corda de nylon no mercado, criada nos anos 1940. Dizem que Segovia, em NY, reclamou que a II Guerra Mundial estava comprometendo a produção de cordas para violão e que ele se preocupava com o dia em que pararia de tocar por falta de cordas. Albert Augustine então criou as cordas de nylon, que se provaram tão melhores que as de tripa de carneiro (as que eram usadas até então), que as substituíram totalmente em poucos anos.

A empresa produz três tipos de primas (classic, imperial e regals, da menor pra maior tensão) e três tipos de baixos (black, red e blue, também em ordem crescente de tensão), que podem ser combinados em nove produtos distintos. Por exemplo, a ilustração acima é de um jogo com primas classic e baixos blue.

Uma coisa bacana da Augustine é essa possibilidade de usar primas numa tensão e baixos em outra. Como são de materiais distintos, e sobre eles recaem papéis diferentes (por exemplo, as primas tocam mais melodias que os baixos), isso é um qualidade positiva dos encordoamentos dessa marca.

As primas da Augustine têm um som gordo, com poucos harmônicos agudos. As classic são muito fáceis de fazer vibrato, e lembram a sonoridade de gravações nos tempos do disco de vinil. As regals são mais agressivas, com um ataque forte se comparado com a sustentação da nota. As imperial são um meio-termo entre esses extremos.

O maior problema das primas da Augustine é a falta de constância. Aparentemente, o controle de qualidade da empresa é falho, e é comum comprar cordas com defeitos graves, como soar desafinadas. Há suspeitas de falsificação nas cordas que chegam às lojas, também.

Os baixos também têm um som gordo, com poucos harmônicos agudos. Os blue, de maior tensão, têm maior sustentação e um pouco mais de brilho. Os black, de menor tensão, soam quase como se a boca do violão fosse abafada.

A ausência de brilho nesses baixos mesmo quando novos me incomoda. Acho uma boa opção para trocar a corda e tocar em público logo em seguida, pois em dois ou três dias de uso a perda de brilho que o uso naturalmente provoca faz com que esses baixos soem, aos meus ouvidos, apagados. Como prefiro subir num palco com o mínimo de surpresas possível, não me agrada a ideia de tocar em público com uma corda com poucos minutos de uso.

A Aquila desenvolveu uma corda que eles chamam de nylgut. É um material sintético, próximo do nylon, que busca produzir uma sonoridade similar à das cordas de tripa. Só as primas usam nylgut.

Foi uma das maiores decepções nos meus testes com cordas. As primas nylgut, ao menos as brancas que testei, são ásperas. Em função da aspereza, gastam muito as unhas e todas as notas soam com um ruído insuportável. Ao invés das notas soarem tuuuuuuuuummmm, soam ffffffffffffffffffffffuuummm.

A D'Addario tem três modelos diferentes de cordas de nylon, cada uma em tensões diferentes. O de melhor qualidade se chama Pro Arté.

Durante muitos anos essa foi a minha corda preferida. A melhor qualidade da D'Addario está na afinação. Nos outros quesitos, é uma corda boa, sem grandes destaques. Digamos que na afinação ela é nota 10, e nas demais características 7 ou 8.

Em função disso, essa é uma corda "neutra", que mostra bem o som do violão propriamente dito, o que pode ser uma qualidade ou um defeito, dependendo do ponto de vista. Com frequência nós violonistas escolhemos cordas que compensem algum ponto fraco do instrumento. Por exemplo, usa-se uma corda com muito brilho num violão escuro. Com a D'Addario não dá pra fazer esse tipo de coisa.

A D'Addario vêm lançando no mercado várias cordas diferentes com o padrão de qualidade Pro Arté. Dessas, a que testei foi a composites lightly polished. Elas vêm com baixos polidos, que produzem menos ruído, e uma terceira corda extra, feita de carbono e em cor marrom.

Minha experiência não foi positiva com essas cordas. A terceira corda de carbono tem um ruído de ataque muito presente, e a cada nota que tocava nessa corda parecia que tinha um tambor dentro do meu violão. Nas três vezes que testei essas cordas os baixos tinham cor de ferrugem mesmo dentro da embalagem lacrada.

A Galli lançou no mercado primas com um novo tipo de nylon que está sendo chamado de titanium. Tive uma surpresa agradabilíssima com essas cordas. Ela tem um equilíbrio e uma resposta surpreendentes, com mais brilho e projeção. É uma corda bem próxima do meu ideal.

O problema é que esse nylon utilizado requer muito mais cuidado com as unhas. Se as unhas não estiverem tão polidas quanto o vidro, elas arranham a corda e em poucos minutos o som fica terrível. Se as unhas estiverem impecáveis, as primas têm uma durabilidade surpreendente.

As primeiras primas de carbono que usei foram essas da Hannabach. São cordas com maior projeção, e dá a impressão que o violão é mais forte. Porém, são estridentes demais, e na mão de certos violonistas soam agressivas. Vibratos são quase impossiveis de serem feitos, e ligados exigem maior esforço.

Como comentei anteriormente, estou usando baixos Hannabach 728 low tension no momento. São baixos muito profundos, com maior riqueza tímbrica, e boa sustentação. O único problema é a durabilidade pequena. No Brasil elas também são mais caras que outras marcas, então não é uma corda que poderia usar sempre.

A primeira corda feita pela Savarez que testei foi a série tradicional com primas retificadas. É uma corda terrível, talvez a pior que já toquei em toda minha vida. Os baixos duram pouco, e as primas são muito ásperas. O som sai com mais ruído que na Aquila nylgut, e gasta mais a unha. É a única corda que testei em toda a minha vida que não recomendo pra absolutamente ninguém que toca violão solo.

Em seguida, testei a Cristal Soliste. É uma corda bacana, com muitas semelhanças com a Augustine, porém com um controle de qualidade bem mais rigoroso.

O único inconveniente dessa corda é o custo. Ela está entre as mais caras nas lojas brasileiras, e na internet é difícil encontrar à venda alguma por um preço competitivo.

Estou usando no momento primas Alliance, que também são feitas de carbono. Ao contrário das que testei anteriormente, essas primas têm maior sustentação, maior projeção, ainda permitem vibrato, o ligado não exige tanto esforço extra, e não soam estridentes, apenas com mais brilho.

Reiterando o que escrevi no tópico anterior, amigo internauta, isso é minha opinião, e reflete o som que gosto. Músicos com outro ideal sonoro provavelmente pensará de forma diferente. Espero que essas informações sirvam para auxiliá-lo na sua busca.

2 comentários:

  1. Já testou a séria "classica" da giannini? Tem a tensão leve, normal, pesada e extra pesada.
    Uso muito a pesada, relação custo beneficio acho boa! Faz um teste "drive" e posta sua opinao!

    Abraços.

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  2. Da próxima vez que for ao Brasil, experimentarei. Lembro que no meu tempo de estudante usava vez ou outra por falta de grana. Obrigado pela sugestão!

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