sábado, 3 de janeiro de 2009

Concerto de Copacabana para violão e orquestra, de Radamés Gnatalli

Amigo internauta,

Tive a oportunidade de tocar o Concerto de Copacabana, de Radamés Gnatali, com a Orquestra de Câmara Vale do Paraíba, no dia 21/12/2008. Foi uma interpretação que superou as expectativas, e gostaria de compartilhar com vocês o vídeo dessa apresentação, dividida em três partes.


primeiro movimento

Radamés Gnatalli (1906 - 1988) nasceu no Rio Grande do Sul, filho de imigrantes italianos. Seu pai era um apaixonado pela ópera, e batizou todos seus filhos com nomes do mundo operístico. Radamés é um dos personagens de Aída, de Giuseppe Verdi.

Durante sua educação musical, Radamés tocava tanto em formações eruditas quanto populares. Jovem, mudou-se para o Rio de Janeiro com ambições de se consagrar como pianista. Encontrou trabalho nas rádios cariocas fazendo arranjos, e a partir daí seu caminho foi trilhado na composição. Tem uma produção vasta, que inclui obras de concerto, composições populares e vários arranjos.

Dentre suas peças populares, talvez tenha maior destaque a Suíte Retratos e o choro Remexendo. Alguns de seus arranjos são tão consagrados que hoje fazem parte da música original. É praticamente impossível ouvir alguém tocar Aquarela do Brasil sem seguir nota-a-nota o arranjo de Radamés, desde a introdução. Sua produção erudita era chamada pelo próprio de "neoclássica nacionalista", por utilizar formas consagradas, sem ambições vanguardistas, e forte influência da música urbana brasileira, em especial do choro e do jazz.



segundo movimento

O Concerto de Copacabana é o terceiro dos quatro concertos para violão solo desse compositor, cuja produção também inclui um concerto para dois violões e orquestra, um para violão, oboé e orquestra, e um para violão elétrico, piano e orquestra. Poucos compositores em todo o mundo tiveram uma produção tão numerosa para esse tipo de formação.

Apesar de, hoje, o nome da composição nos remeter à Bossa Nova, Radamés Gnatalli remete mais ao Rio de Janeiro do choro nos morros cantados em versos como lugares idílicos e da música orquestral nos cassinos sofisticados da alta sociedade carioca.

O primeiro movimento está construído em um tema rápido e um lento. O tema rápido lembra baixarias do choro e o lento as melodias das orquestras nos cassinos. O segundo movimento inicia com melancolia, mas logo dá vez a uma valsa alegre e festiva. O terceiro é alegre e vivo, e também utiliza elementos presentes no choro.

Ao longo de toda a composição, o ouvinte notará que a flauta ocupa um papel muito importante, e a composição é quase um concerto para violão, flauta e orquestra.


terceiro movimento

A Orquestra de Câmara Vale do Paraíba é um grupo regido pelo maestro Rogério Santos, com sede em São José dos Campos (SP). Ela faz parte de um projeto social chamado Oficina de Cordas, que busca difundir a música erudita para a população em geral, inclusive crianças em situação de risco social. São os alunos mais avançados desse projeto, bem como os professores, que formam essa orquestra. É um trabalho muito bonito e que merece elogios. Para saber mais, visite o http://www.sofij.org.br/ .

Foi um prazer tocar esse concerto, com esse grupo. Estudo essa obra há mais de dois anos, e como infelizmente há poucas oportunidades para um violonista tocar com orquestra (e, quando há, quase sempre toca-se apenas o Concierto de Aranjuez ou o Concerto do Villa-Lobos), já estava desiludido que alguma vez teria a chance de compartilhar com as pessoas uma composição tão bonita. Felizmente o Rogério Santos topou o desafio, trabalhamos em condições muito desfavoráveis, e ainda assim a força da obra de Gnatalli resultou numa interpretação muito bacana.

Quero agradecer muito a todos os que tornaram possível essa apresentação, em especial ao maestro Rogério Santos, à Sofij, à Petrobrás e à UNIVAP.

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