sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Elementos de uma composição musical (3)

Amigo internauta,

Vamos falar agora de um elemento ao mesmo tempo simples e complicado: o ritmo.

A maneira simples de falar do ritmo é dizer que trata da duração dos sons. Isso é o suficiente para, intuitivamente, a maioria das pessoas compreender do que se trata. Porém, seria incompleta.

A música é uma arte que ocorre no tempo, que exige que as coisas se sucedam na linha do tempo. Comparando com outras artes, percebemos que a escultura, por exemplo, ocorre no espaço, e é preciso a existência das três dimensões espaciais para apreciá-la.

Porém, não basta que elementos se sucedam para se caracterizar como música. Do seu despertar ao seu adormecer, todos os dias, amigo internauta, você ouve sons após outros, e nem por isso chama o que você ouve andando nas ruas de música. Como música é uma forma de comunicação humana, ela precisa ser uma mensagem transmitida de um ser humano para outro. E só é possível fazer com que o som diga coisas de uma pessoa para outra se esse som for organizado por alguém. Sons ao acaso não são música.

Portanto, se a sucessão organizada de elementos sonoros no tempo é a música em si mesma, e ritmo é o elemento que descreve como está organizada a duração e a ordem de cada elemento, podemos dizer que o ritmo é a "alma" de uma composição musical, é o que dá vida a ela.

O domínio do ritmo é tão forte que, se uma pessoa cantar as notas de uma melodia com um ritmo diferente, com frequência é impossível reconhecê-la. Mas, se só o ritmo daquela melodia for tocado, é possível que outra pessoa saiba qual é.

Dessa forma, falamos de ritmo englobando absolutamente todos os demais elementos de uma música. Podemos falar de ritmo harmônico, indicando como os acordes se sucedem ao longo do tempo, por exemplo. Embora no plano teórico pareça complicado, na prática é muito simples. Por exemplo, ouça o vídeo abaixo:



Note que, no começo, cada acorde dura aproximadamente quatro pulsos (grosso modo, quatro batidas de pé). Depois de 8 acordes, o ritmo com que os acordes se sucedem dobra, e cada acorde passa a durar apenas 2 pulsos.

E isso pode ser feito com tudo.

Porém, no dia-a-dia, tanto músicos quanto ouvintes entendem por ritmo apenas o acompanhamento, especialmente o que os instrumentos de percussão tocam. Vamos falar um pouco dessa noção de ritmo.

Uma forma de uso do ritmo que foi predominante no passado e hoje só está presente em pequenos nichos apresenta uma sucessão não-regular dos elementos. No caso do vídeo abaixo, um excerto de canto gregoriano, o ritmo está subordinado ao texto religioso, que não é um texto poético com uma métrica regular.



O ritmo mais predominante na nossa cultura há diversos séculos apresenta regularidade na sucessão dos sons. Chamamos de compasso o que determina essa regularidade. Por exemplo, se uma música tem compasso ternário, ela apresenta um ciclo que sempre se repete a cada três pulsos (três batidas no pé). Ouviremos abaixo uma valsa em compasso ternário, a famosa Danúbio Azul, de Johann Strauss Jr (1825-1899).



Para comparar, uma composição em compasso binário, ou seja, ciclos de dois pulsos. Mamãe Eu Quero, em interpretação de Carmen Miranda.



Diversos compositores ao longo da história buscaram escrever músicas que, para ter maior riqueza rítmica, quebrassem um pouco da regularidade do compasso. Um recurso que foi muito comum no século XV ao XVII foi o uso da hemíola, que consiste em, grosso modo, tocar dois compassos ternários seguidos por três binários. Os ciclos do ritmo ficam, portanto 1 2 3, 1 2 3, 1 2, 1 2, 1 2. Segue abaixo um exemplo.



Alguns estilos musicais são caracterizados pela mudança constante de ciclos distintos, entre eles o flamenco, como percebemos no vídeo abaixo.



Porém, a maior parte da música que se escuta no ocidente é bem diferente, pois utiliza ostinatos. Ostinato é a repetição incessante de um elemento musical. Um ostinato rítmico, portanto, é um ritmo que é repetido constantemente ao longo de uma música. Abaixo, um exemplo de um uso radical de ostinatos, Nagoya Marimbas, de Steve Reich (1936-)



Um exemplo de uso mais comum do ostinato ouvimos na canção Holiday, de Madonna.



Fique à vontade para comentar e enviar dúvidas, amigo internauta.

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