sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Gosto x qualidade

Amigo internauta,

Na última mensagem sobre música, falei da importância de avaliar o fenômeno musical não só do ponto-de-vista da obra, mas também do usuário. Consideramos não só o valor intrínseco de uma composição, mas também a função que ela exerce. Avaliar apenas uma dessas coisas pode criar uma forma distorcida de ver o papel que a música exerce na sociedade.

Outra origem de várias distorções na compreensão da música é considerar avaliações individuais como um fenômeno coletivo. A mais frequente delas é achar que há uma relação direta entre gosto e qualidade. Quantas vezes não ouvimos, ou mesmo já dissemos, que algo que não gostamos nem ao menos merecia ser chamado de música? Ou que a música preferida de alguém é a melhor composição de todos os tempos?

O gosto é algo individual e subjetivo. As pessoas acham uma música agradável ou desagradável pelos mais variados motivos, muitos deles sem qualquer explicação racional. Gosto é uma questão de identificação pessoal, é como um tipo de ressonância. Você aprecia canções que despertam em você alguma coisa que já está lá, e essas coisas são o resultado de toda uma experiência de vida particular, tão rara de encontrar outra igual quanto uma impressão digital.

Já qualidade está relacionada à qualidade intrínseca do texto musical. Por exemplo, sua forma, como as melodias são manipuladas, qual a construção harmônica, como os elementos musicais estão combinados naquela composição, qual o poema de uma canção, etc.

Teve um tempo, muito atrás, em que gostar de uma composição de qualidade questionável era repreensível em vários grupos sociais, e daí surgiu esse comportamento de auto-proteção em que as pessoas passavam a afirmar que era de alta qualidade tudo o que gostavam, sem avaliar por um só segundo como era o texto musical.

Hoje as coisas são diferentes. Encontramos aos montes pessoas irreverentes que consideram "cult" canções pobres, e o que desperta o interesse nelas é exatamente a baixa qualidade musical dessas composições.

Não tenha vergonha dos seus gostos, amigo internauta. Seja feliz ouvindo tudo o que te interessa, qualquer que seja o motivo desse apreço. Mas, ao mesmo tempo, procure avaliar as músicas que você gosta apenas pela qualidade intrínseca delas em si mesmas, descartando sua função e a sua opinião. Mesmo quem não tem qualquer formação musical pode chegar a várias conclusões. Basta ter atenção e um bom ouvido.

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